Ploft! Esbarrei no meu abajur e ele caiu no chão, e eu continuo aqui na minha cama deitada, contando ás estrelas brilhando lá no teto e sem coragem para levantar da minha cama, ligar o interruptor e ver qual foi o estrago dessa vez com o meu abajur detonado, sabe, pela janela está entrando um ventinho frio e o meu conforto aumenta ainda mais debaixo do meu edredom cor de rosa; eu não estou disposta a sair daqui para juntar os cacos...
Não sei por que o meu vizinho de cima inventou de ligar o som bem alto a essa hora da madrugada, tenha paciência, são exatamente três e vinte e um, incômodos no meio da noite e meu sono que até agora não veio, eu já contei carneirinhos, estrelinhas, soprei bolhas de sabão no ar, já tentei fechar os olhos com o ventinho frio passando rente a minha face como se fosse um carinho suave, já abracei o meu ursinho de pelúcia e apertei bem forte e fechei bem os meus olhinhos tentando imaginar um sonho bom, mas meu sono que não vêem e ainda esbarrei no meu abajur que fez um barulho horrível, tenho até medo de ligar o interruptor e ver o que aconteceu; eu; continuo indisposta a juntar os cacos e muito me ajuda a descansar este barulho no andar de cima...
Olhei para o lado e o meu despertador ainda silencioso marcava quatro horas da madrugada, o vento frio parou de entrar pela janela e agora eu ouvia além do barulho irritante e caipira do vizinho de cima, ouvia o barulhinho da chuva forte que caía lá fora e o meu sono ainda não veio.
Insônia? Sabe que a última vez que me aconteceu algo parecido foi na madrugada antes de viajar para o último carnaval, pois, eu passei a noite inteira arrumando a minha mala e trocando de roupas em frente o espelho feito uma boba desfilando as cores mais divertidas e imaginando em que ocasiões eu usaria os modelos? Falta do que fazer? Não seria isso e muito menos insônia, seria apenas a minha imensa coragem de ser inesquecível por onde eu passei ou a poderosa se você preferir! Tudo bem, você também pode rir...
Vontade de gritar, mas me contive! Posso eu chorar? Ah, esse meu vizinho de cima é um... Melhor eu não falar ou começaria a dizer nomes feios, palavras grandes demais sabe como é? Palavrões! E como se já não me bastasse o barulho que não deixa dormir, eu sinto vontade de ir ao banheiro, e culpa de quem? Claro que é da chuva, mas se eu estivesse dormindo eu não precisaria levantar e para ir ao banheiro e nem olhar os cacos do meu abajur, eu faria tudo isso amanhã de manhã ou não?
Tudo bem, do que adianta mesmo eu ficar discutindo com o tempo essas coisas agora não é mesmo?
Coragem foi tudo que eu precisei para me levantar muito apertada para correr até o banheiro sem cortar o meu pé nos cacos do abajur que certamente se espatifou no chão e acender o interruptor que estava um pouco longe da minha cama.
E no espelho a minha cara de espanto quando olhei o reflexo do meu abajur inteiro no chão sem quebrar nenhum pedacinho de porcelana, até parecia mágica, e então corri para o meu banheiro sem errar e entrar no meu guarda-roupa, então eu liguei a torneira porque tinha parado de chover e neste momento eu estava muito tensa para conseguir fazer o meu ‘xixi’ e eu precisava de algo que relaxasse sabe? Algo tipo ouvir um barulhinho da água?
Que alívio! Há tempos que eu não me sentia tão renovada mesmo sem dormir, parei em frente ao meu espelho com um ar de insônia você venceu e logo sorri porque o silêncio voltou a existir; e pouco saberia que era só o tempo dele pegar uma latinha de cerveja no congelador e fazer aquele barulho e ligar o som...
Sentei no meu travesseiro gigante, coloquei o abajur no lugar, e abracei o meu ursinho de pelúcia, sem nada pra fazer ou pensar, eu deitei na minha cama no escuro do meu quarto e comecei a olhar as estrelinhas mais uma vez...
A música entrava pelas frestinhas da janela, por debaixo da porta da sala de visitas, contornava a mesa de vidro, os quadros na parede da sala de jantar, e virava a esquerda e passava por debaixo da porta do meu quarto que permanecia fechada...
E quando eu estava começando a adormecer naquela noite terrível, o meu despertador que não sei por que eu o esqueci ligado, toca sem parar... Foi quando eu joguei o meu travesseiro nele e de nada adiantou, eu; não muito paranóica abri meu olhos de sono olhei para o lado e vi os raios de sol que brincavam com a minha persiana...
Pesadelo; era tudo o que isso poderia ser, eu não acreditei no que os meus ouvidos ouviam outra vez. Será que o cd furou? Será que ele tomou um porre nesta madrugada? Por que eu cochilei ouvindo esses versos e agora acordei com o mesmo zunido musical?
Vocês querem saber o que diz a música? Vocês querem saber quem é o meu vizinho?
“Ele acha que o dinheiro compra o amor, mas enquanto a gente briga por alguém, a gente fica sem ninguém...”
É o ritmo é até legalzinho, mas tenha paciência, eu tolero só mais treze minutos para ele mudar de música, de canção, de melodia, e parar com essa irritação, só o tempo que vou me levantar e ir até o banheiro vestir o meu roupão lilás, fazer a minha máscara de argila, colocar a minha touca colorida com creme no cabelo ou então eu vou reclamar e tocar a campainha e dizer umas boas verdades a esse bobão, que acha que só porque ele foi meu namorado e agora por uma incrível ironia do destino se tornou o meu pior vizinho, ele acha que ele tem o direito de me perturbar assim? Passado é passado, e os vizinhos à parte!
Treze minutos e nada, sabe de uma coisa? Cansei de tanto esperar, eu não agüento mais, eu não dormi nada e a culpa é toda dele!
Bllim, blom! Por favor, você poderia fazer o favor de desligar o seu som ou então mudar a cantoria pelo menos?
Irônico, ridículo, panaca! Ele apenas me olhou e riu, e como se não fosse suficiente me convidou para entrar e disse que eu podia usar o seu banheiro para que eu pudesse tirar a minha máscara de argila verde que eu havia esquecido sobre todo o meu rosto e enfim, eu estava mesmo disfarçada de monstro do lado Ness, e ainda pediu cinco minutos porque ele fazia questão que eu experimentasse as panquecas que ele aprendeu a fazer...
Meu coração não pulsava, eu fiquei atônita com tanta gentileza, mas, era certo que eu não poderia esquecer que ele não vale a pipoca mastigada de ontem na sessão do cinema que fui com as minhas melhores amigas...
Aproveitei para olhar a decoração que ele fez sem a minha ajuda, por que assim eu saberia se ele estava bem ou não sem a minha presença, coisas de mulheres espertas, e as minhas amigas leitoras devem saber como é e meus amigos leitores prestem atenção para não cair numa dessas!
Azar! Isso de fato me perseguia desde esta última trágica madrugada sem dormir, a torneira estourou o cano e foi água para todos os lados e a única coisa que eu podia imaginar era; tinha que acontecer isso logo aqui?
Não pude nem mesmo improvisar tentando fechar a torneira com um grampo por cinco minutos, tempo de dizer adeus e correr para a minha casa de onde eu não deveria mesmo ter colocados as minhas pantufas para fora do tapetinho da porta escrito; “bem-vindo”!
E não tive outra escolha a não ser gritar por ajuda, a quem? Pode rir, é claro que o dono da casa e meu ex-namorado e pior vizinho, mas continuo pensando que se eu o ignorasse e gritasse pela ajuda do zelador do prédio teria sido menos traumático.
O recinto era até legal, bonitinho eu poderia dizer, ele tinha aprendido a se tornar um homem organizado, eu só vi três cuecas jogadas no banheiro, um par de tênis debaixo do armário da pia, o tapete estava limpo e não percebi resíduos de urina ao redor do sanitário. Uau, será que ele é? Não, acho muito pouco provável isso, talvez á empregada tenha dado faxina ontem e embora eu e ele não tivéssemos mais nada em comum, eu confesso que até fiquei feliz de saber que ele não me esqueceu, pois não tinha nenhum vestígio de outra garota aos redores e claro, depois da madrugada aparentemente depressiva que ele passou com uma insônia horrível e algumas latinhas de cerveja e escutando a mesma canção que era como se o coração dele falasse, não poderia ser diferente, ele não me tinha me esquecido...
Pesadelo! Agora eu estava certa disso, eu toda ensopada com o meu roupão e de cirolas arrotas por baixo e sem sutiã e com pantufas de pelúcia cor de rosa na casa do meu ex-namorado e pior vizinho, era pesadelo.
Ele muito feliz veio correndo saber o que eu fiz dessa vez e apenas sorriu dizendo que esta torneira estava problemática mesmo.
Agradeci pelo uso do banheiro e disse que já estava de saída, mas, ele insistiu muito para que eu experimentasse as panquecas de chocolate que ele fez especialmente pra mim, mas, que na verdade não se chamavam panquecas e sim crepes, é que ele sempre confunde.
Não me importaria em experimentar as panquecas que na verdade eram crepes, afinal, ele foi muito gentil, mas eu estava muito ensopada foi o que eu disse e também sentia frio!
Ele me pediu desculpadas por ser tão desajeitado e logo pegou uma blusa enorme dele e me emprestou, dizendo que eu não precisava ter pressa para devolver e isso foi horrível porque era um pretexto dele para falar comigo outra vez...
Vesti a tal blusa gigante de pessoas grandes, e era pretinha, quentinha e estava escrito nirvana, é, coisa adolescente, do tempo que nos conhecemos talvez, o tal blusão ou um vestidinho fashion, estava um tanto desbotado assim como o que eu sentia por ele lá na escuridão do meu coração de pedra.
Sentei a mesa e foi uma manhã sem muitas conversas, já os olhares diziam mais do que as palavras, pesadelo, tudo sempre começa assim...
Abri a janela e veio um pé de vento enorme, sem querer deixei o cadeado da janela dele cair na minha sacada...
Imagine o que aconteceu? Yeah, fomos até a minha casa para buscá-lo e resolvemos assistir um vídeo antigo de quando nos conhecemos de uma festinha que fomos e que por acaso estava sobre a estante bem visível...
Insônia ou pesadelo, tanto faz, todas as mágoas voaram com o pé de vento que entrou pela janela e agora apenas estávamos muito atentos a tela da tevê para reviver tudo que nossos corações queriam mais uma vez fazer, ver o vídeo mais engraçado com a pessoa mais especial ao lado...