Wednesday, September 15, 2010

Capítulo 4 Bodega Fantástica


Capítulo 4

Café Colonial


No Café Colonial, uma boa xícara de chocolate-quente, rum e chantilly não poderia faltar pra despertar os melhores frissons ao som de um bom rock and roll em discos de vinil tocando no gramofone dourado. Ou uma boa caipirinha com a pinga da Terra do Nunca para fazer cócegas na língua e deixar fluir as melhores histórias, os melhores devaneios e os muitos segredos...

---Olá Dona Nutya!
--- Que bom revê-la, como você está Chiara?
---Bem. Ah, eu estou escrevendo um livro. E posso falar nele do Café Colonial?
--- Sim, claro!
--- O livro se chamará: Bodega Fantástica. Sabe Dona Nutya, vou falar nas entrelinhas um pouco de mim, vou falar de um Mundo que eu construiria pra existir um amor sem fim...
--- Quanta honra minha querida. Claro que pode, e é sobre o quê, especificamente o seu livro?
--- Um romance, um drama, uma comédia. Um pouco de tudo que acontece com as minhas amigas. Então, não vou criar um personagem para cada uma delas. Eu vou condensar em cada personagem que existir um toque mágico de cada amiga verdadeira que eu tiver. E antes que a Senhora pense que eu sonho demais... E que sou louca demais, sabe aquela banda que tocará aqui neste Festival de Cinema?
--- Sei, Chiara.
--- Vou colocar trechinhos das melhores canções deles, afinal de contas, sempre escuto e me inspiro. É quase uma terapia musical sabe Dona Nutya? E claro, vou conhecê-los, e eles devem ser muito legais...
---Boa idéia Chiara! Quem sabe eles não gostam do seu livro?
--- Yeah, esse é o meu sonho, a minha banda preferida, a melhor banda de rock nacional, Cachorro Grande. Quero muito que eles gostem do meu livro.
--- Isso seria muito bom para você e para eles. Sabe Chiara, essa banda é muito bacana, e eu já ouvi muito falarem deles por aqui. Os Cineastas e os jornalistas apreciam muito o som, eles até já foram ao Jô Soares. São rapazes que se esforçaram muito para conseguirem reconhecimento e esse é o caminho para qualquer artista, bom arteiro. Ou pra qualquer rapaz que na vida seja bom arqueiro...
--- Sim, a Senhora tem razão Dona Nutya. Mesmo porque o meu cúpido morreu de overdose do amor. E sabe do que mais?
--- O que?
--- Ninguém nasceu com um carimbo no pulso, onde destacará se você será feliz ou triste, rico ou pobre, famoso ou anônimo, chorão ou risonho. A vida não é nada além do que a vida que se leva e no minuto em que seu frenesi se eleva!
--- Chiara, você tem uma estrelinha brilhante para soprar aos céus...
--- A Senhora acredita mesmo em mim?
--- Chiara, eu acredito muito! Ou eu não deixaria você colorir com risos e lindos escritos o nome do Café Colonial nessa sua ‘Bodega Fantástica’. Nunca desista bela menina, você é fantástica. Não deixe que pessoas más se aproximem de você, não apague o seu sorriso e nem o brilho do mundo encantado que você é capaz de perceber. Pois, o amor verdadeiro é o que para muitos nunca vai acontecer se por conveniências tantas pessoas continuarem á viver...
--- Dona Nutya, e o frenesi dos Contos de Fadas existem?
--- Sim, existem. Todos eles foram escritos Chiara!
--- E o sexo com Príncipes encantados existe?
--- Ah, claro que sim, menina! Eles são os bons rapazes que ninguém mais quis desenhar em histórias mágicas...
--- Porque a Senhora diz isso?
--- Hoje, as pessoas já sabem tudo sobre a verdade de príncipes e por isso elas não acreditam mais.
--- Não entendi o que a Senhora disse Dona Nutya.
--- Chiara, antigamente as pessoas acreditavam que príncipes encantados eram homens que não sentiam desejo por outra mulher se tinham uma princesa ao lado. Houve um tempo em que se acreditou que príncipes não eram ‘putos’.
--- Homens, eles são tão complicados, não?
--- Chiara, eles não são complicados. Eles apenas não são perfeitos, encantados, entende?
--- Entendo, o encantamento faz parte da magia e nós humanos não somos mágicos. Temos fraquezas e o que não podemos fazer é confundir isso com estupidez.
--- Isso Garota! Você será feliz quanto encontrar alguém que valha apena sentir o coração bater mais forte, você entendeu tudo.
--- E a valsa dos sonhos?
--- A valsa dos Contos de Fadas Chiara? (Risos)
--- Sim, Dona Nutya, é essa valsa...
--- Ah, você já parou para pensar que essa valsa é nosso Rock’n Roll?
--- Uai! Mas no tempo da Senhora não era diferente?
--- Chiara, ‘o Rock’n Roll não tem idade’! Cachorro Grande, um dia disse isso.
--- Então, posso ainda dançar a valsa dos sonhos?
--- Sim, e talvez o seu vestido preto, meia arrastão e as botinhas pretas sejam os trajes de sua realeza, Chiara! (Risos)
--- Yeah, Dona Nutya, eu vou mesmo mergulhar nesse universo louco de rock’n roll e choque de gerações. A propósito a nudez entre eu e um Rockstar pode ser um traje de realezas?
--- Chiara, nunca se esqueça que a realidade não existe sem dois corações! Não importa como vocês vão se vestir, apenas vista o seu traje mais bonito! Acaso seja a nudez, que seja um traje natural! Não há problemas com o que vestir se até mesmo o Diabo veste Prada...
--- Dona Nutya, a Bodega Fantástica será o palco encantado do Conto de Fadas que acontece no Café Colonial. O Romance será o mais revolucionário de todas as últimas gerações. Será o maior baú de grandes frissons, borboletas de libido e as mais quentes emoções...
--- Chiara, você é uma menina abençoada. Muito obrigada! Por você ter coragem de fazer ode a toda à hipocrisia que algumas pessoas carregam no peito ao tocarem rock. Estas se esquecem que seu próprio avô já sabia tudo isso primeiro...
--- Hum, eu vou aceitar mesmo um chocolate-quente com rum e chantilly, Dona Nutya.
--- Vou acompanhar você. Um brinde à Bodega Fantástica do Café Colonial?
--- Um brinde à Fantástica descoberta de que o Rock’n Roll não tem idade!
--- E Chiara, o que você estava a escrever hoje?
--- Posso ler para a Senhora?
--- Com todo prazer, é claro que você pode. Mas, há tempos eu não faço sexo...
--- Ah, Dona Nutya! E quem foi que disse que frenesi tem idade?
--- Leia o que você escreveu menina, leia! (Risos)

Chiara Garibaldi olhou para xícara de chocolate-quente, rum, chantilly e morangos que Dona Nutya preparava por algum pedido e por segundos imaginou-se casando ao som dos Beatles. O Teatro São Joaquim tinha se transformado num grande salão com chão preto e branco, quadriculado como tabuleiro de jogo de xadrez. Um tapete rosa Pink florescente levava a noiva até ao altar onde tinha lindo Homem á esperá-la. Flores e borboletas enfeitavam o caminho com leve aroma de incensos flores do campo. Um cachorrinho preto, muito fofo entrava carregando pela boca uma cestinha com duas alianças. Daminhas de honra vestidas de fadinhas dançavam ballet até o altar. As melhores amigas da noiva eram madrinhas e vestia vestidos super coloridos, muito Woodstock. O Noivo vestia uma calça e camisa branca, colete colorido e botas estilo The Beatles. A Noiva vestida com um lindo vestido tomara que caia de tule branco e curtinho, uma faixa colorida na cintura, uma coroa de flores nos cabelos, um grampinho azul para dar sorte, o nome das amigas na barra do vestido e botas brancas com detalhes coloridos brilhantes, customizada, estilo de The Beatles. Ainda no salão, as mesas eram todas forradas com forros brancos, pratos, talheres em preto e branco, taças de cristais, e os enfeites das mesas eram floridos com velinhas aromáticas coloridas. Mas, o melhor de toda essa atmosfera mágica era a banda de rock que tocava com uma orquestra durante o casamento. E durante a festa tocava o melhor do rock and roll...

--- Chiara, você tem o sonho de se casar assim?
--- Ah, Dona Nutya! Quem me dera, eu não tenho essa sorte no amor...
--- Sabe Chiara, é quando a gente menos espera e acredito no amor, que ele nos surpreende...
--- Dona Nutya, queria poder te dar razão.
--- Você me dará razão um dia, pode crer! Ah, agora, leia mais, leia mais...
--- Okay!

Ventos que levavam as páginas de um livro aberto para todos os lugares do mundo, ventos do Senhor Hank que espalhava amor e cores por todos os pontos coloridos do Mapa Mundi...
Ali, na Terra do Nunca, na Cidade de Goyaz, há ventos, cores e todas as borboletas e flores...
Um sonho, um lugar, um destino escolhido pela magia do amor. Isso, nenhum livreto de guia turístico poderia mostrar onde encontrar...
Vou contar um segredo. Melhor do que tudo que vocês lerão em Bodega Fantástica, vocês encontrarão em um único lugar do mundo, o Texas!
Imagine dirigir com as amigas um conversível pelo deserto texano, zerar o tanque de gasolina e ter que parar num daqueles bares todo feito de madeira de lei, com cheiro forte, uma porta de entrada estilo ‘bang-bang’, lá onde há uma máquina que você coloca moedas e escolhe uma canção, lá onde o frisson salta de sua ceroula arrota e esmurra seu coração?
Imagine nesse bar um Texano de verdade entrando com uma calça apertada, com o ‘P.A’ (Pênis Amigo) querendo pular pra fora do zíper sufocante, camisa, colete, chapéu e botas estilo The Beatles?
Por favor, uma Heineken geladíssima para as leitoras, antes que eu as mate por terem um orgasmo literário...
Imagine esse Texano forte, ombros largos, cabelos ao vento?
Você nesse bar o meio do deserto do Texas, com as suas melhores amigas, e o Texano caminha em sua direção, e o P.A não pára de sorrir para você, aí ele tira uma pistola e joga em cima do balcão fazendo charme, uma gota de suor escorre pela sua face do lado esquerdo, ele se debruça no balcão e pede uma Heineken geladíssima, e lhe diz oi.
Suas amigas quase desmaiam atrás de você. Sua expressão de encantamento é tão expressiva que o seu ‘oi’ é respondido frenético. Ele te chama para escolher uma música, te puxa pela cintura e dança com o corpo colado ao seu.
Todas as dançarinas de Can-Can querem te matar porque aquele Texano é o mais gostoso de toda região e ainda sabe tocar guitarra, bateria e cantar.
Suas amigas quase não acreditam em tudo que vêem, e o que elas não poderiam imaginar que assim como ele ainda tinham mais quatro na banda que ele toca, e com o mesmo estilo, com o mesmo calor humano. As dançarinas gostam mais do outro, porque é o mais puto e apenas isso.
Ah, suas três belas amigas dançam com outros três Texanos maravilhosos, sensuais, fortes, com P.A gigantes, e tudo que não é uma cena de Hollywood Pop segue até o gelar da madrugada fria no Hotel mais próximo, porque gasolina, só teria no outro dia.
E o Texano que sobrou, não ficou triste não, ele era gay e com o velho dono do bar no meio do deserto texano, foi jogar uma boa sinuca.
Depois, ainda há quem possa dizer que a capital do Texas é apenas uma grande ‘nevada’.
Aqui, no hemisfério sul, os ventos sopram com outros ares. Mas, dizem que aqui esses ventos nunca deixaram de refrescar todas as frutas dos mais belos pomares...
Festival Internacional de Cinema Ambiental, quarta-feira 9 de Junho de 2010. O sol que passava pelas frestas da cortininha azul do “busão” atingiu as minhas duas pupilas.
Calor! Ai, eu acho que isso foi a minha coluna estralando! Risos!
Muito prazer, eu nem me apresentei, bem lembrado, mas sabe o que é?
Eu na minha brutal ansiedade e desorganização emocional passei a noite em claro arrumando a minha mala colorida, cheia de roupinhas com um estilo diferente para chamar atenção de alguém que levante o meu ego. Alguém que me confunda com a própria vontade de ter encontrado ‘A Princesinha RocknRoll’. Mesmo que você que lê, pense que é cafona... (Ou, mesmo que tudo isso ainda demore um ano inteiro para acontecer.) E hoje, já é quarta-feira 9 de Junho de 2010...
Você sabe como é?
Ontem foi o dia dos namorados fictício, porque na verdade o dia é sábado, mas, eu tinha essa viagem marcada. E eu quase tive uma overdose de chocolates, depois de deixar o presentinho do Israel na portaria do luxuoso edifício fedorento! (O porteiro estava descarregando os entulhos, lixões!). Game Over!
Isso mesmo, ele acabou com tudo nessa madrugada maluca. E você me pergunta se ele me telefonou, foi isso?
Não, ele não é o Cara que vai me conquistar com um rock e um cinema. Claro que ele não me telefonou. É por isso que coloquei à prova do fogo a minha pele e toda a minha desistência, àquele ser humano que tinha o apelido de Bundão! (Isso é um fato verídico, pode acreditar!).
Não, não sou eu, o tipo de Menina sem noção que faz coisas que insistem na teoria insana de quem diz; “a fila anda”.
Lixo! O “orkut” está cheio dessas comunidades sujas que persuadem as pessoas à serem cada vez mais insensíveis e se distanciarem do amor. Principalmente do amor próprio.
Ah, e eu nunca precisei menstruar o meu cabelo para ser ruiva. Nem nunca fui ruiva. Mas, falo em nome da minha grande amiga a Camila Maia e ela é uma lindíssima ruiva e exemplo, de que para ser ruge não precisa ser ‘blody’! Pois, a Camila Maia é assim Deusa, por nunca ter precisado transar com um cara em troca de uma única carreirinha de cocaína misturada com pó de macaxeira, como muitas ‘ruges’ fazem por aí...
Isso é falta de amor próprio!
E é por isso que o meu avô conta nos dedos quantas pessoas jovens ele conhece com este sentimento, com o amor próprio olha que ele já faleceu! Ufa! Hora de fechar a mala! Terrível! Tão pesada apenas para cinco dias. Eu acho que é mais ou menos isso que eu vou ficar por lá, se eu voltar na segunda-feira de manhã. Mas, esqueça a matemática, ela não me acrescenta nada mesmo, até mesmo porque “a fila não anda”.
Ah, e agora são exatamente quatro e meia da madrugada. E meu ônibus sai ás seis e quarenta e cinco. Isso considerando a pessoa ansiosa que eu sou, eu estou organizando os cabides do meu armário pelas cores e enfileirados retinhos um ao lado do outro para ver se o tempo passa.
Sinto sede, muita sede. Preciso muito que no frigobar aqui do nosso quarto no Address Hotel, tenha uma Coca-Cola geladíssima; ou lá vou eu com o meu carro lindo-alugado, o meu carro Peugeot cor de rosa, comprar essa gostosura no Pão de Açúcar mais próximo, pois, de madrugada eu não posso acordar a coitada da Carol que dorme e ronca aqui em meu quarto colorido de hotel.
Fala sério, ela é a minha melhor amiga-irmã, mas, isso já seria sacanagem e nem há necessidade de tirá-la do sonho. Lá no Pão de Açúcar a segurança é excelente, eu posso ir tranqüila de carro e sozinha. Ah, claro que eu não me esqueço de trazer uma Coca-Cola pra Carol, não é mesmo?
Que bom, que têm uma última Coca-Cola na geladeira. Bom, estou muito atrasada. Resolvi á essa hora de insônia reabrir a minha mala, amanhã pago uma gelada borbulhante pra Carol!
Bom, eu gostaria mesmo de dizer; quanto me atraso para me arrumar, pois sempre quero estar linda; e eu não sou convencida não. E, muito prazer como eu já ia me esquecendo...
Meu nome é Chiara Garibaldi e o seu?
Interessante! Sejam bem-vindos, aqui não há incômodo com ruídos ou fumantes...
Pois, é uma honra passar um tempo com vocês, nessa viagem hilária para descobrir o segredo do pote dos garotos borboletas que enfeita o Café Colonial...
Antes, que você me chame de louca, espere até o dia em que você chegar á Terra do Nunca, vulgo; Cidade de Goyaz! Aposto um Texano que você se arrepiará com a magia e os frissons, iguais aos de Chiara Garibaldi e de Caroline Linder.
Viajar é preciso, conhecer novos lugares, sentir novas energias e renovar a alma...
Ah, você quer passar o tempo aqui dentro desse ônibus verde meio cheio e estranho?
Acredite, pode ser legal.
Espere, ouça essa canção. Sabe, é uma banda nova de uns caras que eu descobri de madrugada na MTv.
Tudo bem, eu não quero ser modesta, eu falo é sobre a minha banda de rock favorita. Vocês vão adorar! Vou cantar, porque assim o tempo não passa devagar e eu descubro se há chatos para incomodar...
Essa será uma longa viagem de Goiânia á Terra do Nunca. Ah, eu quis dizer de Goiânia á antiga capital do Estado de Goiás, a charmosa Goiás Velho como é mais conhecida. Mas, as pessoas que moram lá, elas gostam que chamemos de Cidade de Goyaz ou Vila Boa de Goiás.
Lá, na Vila Boa onde a vida é boa; a melhor banda gaúcha de todos os tempos, já tocou e ainda vai tocar muito mais...
--- Que banda é essa? Quem são os caras dessa banda, Chiara?
--- Os caras? Uns fofos, lindos, educados e charmosos! Verdadeiros Rockstars! Claro, que tudo isso eu encontrei na melhor banda de todos os tempos, a Cachorro Grande.
---Chiara, será que eles roem ossos?
---Não, penso que não. Escuta o som. Os caras serão os bons, eles também acreditam que se sexo é tudo que move o coração; só o rock é o amor. Isso é um Conto de Fadas do Rock. Aonde Fadas brindam cervejas e gozam o melhor do rock ao desvirarem a ampulheta do tempo, o relógio da vida. E se sentir dentro dessa energia, dessa sintonia, dessa magia, deve ser como se sentir dentro de uma fantástica vinheta da MTv.
--- Não entendi, Chiara. _ Dona Nutya
--- Dona Nutya, se imagine dentro de um mundo aonde tudo pode acontecer. Aqui no Café Colonial tudo pode acontecer entre as pessoas. Mas, nas vinhetas da MTv, tudo pode acontecer num complexo de magia, como se fosse um universo encantado, como se fossemos Alice no País das Maravilhas escorrendo pelo enorme buraco...
---- Menina, você tem mesmo uma ótima imaginação! Continue contando-me essa história, esse livro que estás a escrever sobre você e suas amigas! Estou adorando, estou sentindo vontade de vê-lo nas telas de cinema. É mesmo uma história envolvente, parabéns! Por favor, leia mais, conte-me tudo. Não vou lhe interromper mais, estou muito curiosa.
--- Que ótimo! Dona Nutya, a Senhora se sentir assim. De coração, eu fico muito feliz por tudo isso, sinto-me realizada como escritora ao ouvir que estou alcançando os meus objetivos com um livro lindo que traz nuances de Woodstock e passa muito sobre paz e amor para as pessoas. Ah, vou ler, vou lhe contar muito sobre a magia dessas entrelinhas...
No Café Colonial, Chiara estava emocionada, radiante, por ter conseguido tanto carisma de Dona Nutya, uma Senhora muito culta e uma de suas primeiras leitoras.
A história era nada mais do que alguns relatos do próprio diário de Chiara Garibaldi. Podem acreditar. E essas anotações eram passadas á limpo para o formato de um roteiro cinematográfico. Acredite o grande sonho de Chiara era fazer um filme de sua vida e mostrar que nem tudo é tão perfeito quanto os olhos dos outros acreditam ser...
Aconteceu na viagem de Goiânia para Cidade de Goyaz. Mais ou menos três horas num ônibus rodando na estrada...
Ás vezes três horas pode parecer muito pouco tempo. Ás vezes três horas pode ser um grande tédio.
No ônibus, as meninas cochilavam, ouviam músicas e conversavam muito, pra que talvez assim, chegassem mais rápido á Terra do Nunca.
E por uma frestinha de janela entrava um ventinho que refresca toda a atmosfera tensa, de tédio...
---- Carol, Carol, Carol, responde!
---- Cala a boca, Chiara deixa-me dormir.
---- Não Carol, é importante. Carol, Carol, responde, olha aqui.
---- Não Chiara, que responder o que? Você quer dizer Carol acorda. Ah, Chiara! Deixa-me dormir.
---- Caaaaaaaaaaarol...
Um travesseiro jogado na cara de Chiara riu e Carol coçava os olhos com cara de sono.
---- O que foi?
--- Ah, é como diz numa canção deles...
--- Uhm, eu adoro a Cachorro Grande, Chiara!
---- Carol; esse trecho é um dos melhores... (Risadinhas)
---- Ih, lá vem você com as suas gracinhas, quando ri assim. E ainda me acordou? Eu mereço viu...
“Lili tinha um jeito estranho, dormia com um drinque na mão.”
--- Yeah, Carol essa é você? Ah, e eles nem conhecem você ainda.
--- Chiara sua louca. Eu não sou a Lili. Ah, sua louca, você me acordou no meio da madrugada.
--- Carol, eu não podia conversar sozinha, e minha Coca-Cola acabou e nem tinha outra no frigobar...
--- Nem começa, porque escuta essa parte: “Lili via assombração, filosofava no balcão.” É de você minha querida amiga, que eles estão falando. Lembra o Bundão? Lembra as suas lamentações no balcão do Bolshoi Pub? Então, o que você me diz?
---Astros do Rock’n Roll escrevem sobre histórias de amor, Carol!
--- Chiara, ou talvez os astros de Rock’n Roll cantem histórias de terror?
--- É, Carol você tem razão.
--- Chiara, acho que a gente já está chegando! E a propósito que história é essa de tomar Coca-Cola do frigobar, de desarrumar a mala?
--- Ih, Carol, onde estamos? Ai, eu acho que eu sonhei acordada!
--- Chiara, eu tenho certeza de que você sonhou acordada. Pior, é que você tem a capacidade de sonhar acordada, incomodar as pessoas e ainda acordá-las. Amiga, você deve estar exausta com a viagem. Ou deve estar muito maluca do coração, que até começou a dizer estranhezas. _ Carol
--- Carol, eu espero que sim, eu acho que estou cansada. Porque esse barulhinho foi um estralo da minha coluna. Meu Deus eu estou toda amarrotada, um pouco triste e desanimada.
--- Você espera que esteja maluca do coração? Desanimada é tudo que você não está. Chiara você é louca demais. (Risos)
--- Argh, não Carol...
--- Chiara, você precisa de se levantar, dar uma voltinha.
--- Voltinha dentro de um ônibus?
--- Levanta, deixa circular o sangue. Vá ao banheiro.
--- Não precisa não Carol, eu já estou bem, eu já acordei. Aliás, o que eu disse enquanto dormia?
--- Loucuras, suas loucuras. Sabia, eu sabia! Você tem uma recaída por garotos que fazem medicina e estão no esquema ex-colegial, quero dizer sorvete de colegial, medicina e televisão!
--- Cala a boca, Carol! Por favor! Esses garotos não servem nem para terem um P.A de verdade.
--- Ah, Chiara, acorda, acorda de verdade, estamos quase chegando...
--- Já acordei!
--- Sister, lá você conhecerá outros caras legais, não delire, não sofra, relaxe!
--- Pô, Carol! Não estou sofrendo. Pára de encher o meu saco, nem estou dormindo acordada vai...
---Pessoa, não fica assim, você vai esquecer esse babaca! Ora, ora ele é um ridículo que nem te ligou hoje para agradecer o presente. Mas, você também foi o máximo deixando o relógio de vinil na portaria do prédio e depois seguindo sua viagem. E melhor ainda por não ter subido para entregar! E se ele tiver jogado fora, não fique triste, pelo menos você terá feito a alegria de algum mendigo ao remexer o lixão, o qual vai poder não andar mais perdido e saber que horas são. Sem dizer que também poderá se lembrar do tempo em que ouvia blues no barzinho, em que um dia ele tocou violão!
---- Será, Carol?
--- Chiara, mais do que qualquer outra coisa, lembre-se que um namoro á distância é a treva. Minha amiga, você vive, reside, mora na capital paulista. Não que você seja melhor do que ele por isso, mas, lembre-se que o seu tempo por lá corre mais rápido. E quando essas tristezas baterem no teu peito é disso que você também tem que se lembrar, além do que você é uma Mulher incrível e além do que nós sabemos por quem você está molhando suas ceroulas arrotas...
---Carol! Obrigada por levantar o meu astral, você é ótima nisso. Mas, essa foi uma piadinha muito sem graça! Agora eu vi, quer me dizer que todo artista tem a pretensão a ser mendigo um dia?
---Chiara Garibaldi, é normal. O que não é normal é você fingir que apelou comigo por causa da comparação entre mendigo e artista. Aliás, por se tratar de um país aonde a cultura se resume em sabe se lá o que, e o blues e violão deu lugar ao funk e ao bonde do tigrão! Hoje em dia um dos melhores asilos de artistas que eu saiba está no Rio de Janeiro; e você já notou quanto está custando o tarifário aéreo e rodoviário para lá?
---- Carol, você não sabe o que diz. Ai, eu defendo todas as artes, viu...
--- Chiara, você defende mesmo. Porque não mobiliza, inventa uma ONG para garotas que molham suas ceroulas arrotas por causa de Rockstars?
--- Carol, eu não discuto coisas ridículas. Você não sabe o que diz.
--- Não sei o que eu digo? Ah, coitados dos nossos amigos que não tiveram a nossa sorte com a arte, eles estão à mercê na beira da solidão... Ah, mas não mais do aquele “playboyzinho” ao jogar fora o vinil no lixão! E o mesmo posso dizer do Rockstar quando estiver perto de você quando sua ceroula arrota molhar sem ser em vão... _ Risos! _ Carol
---ARGH! É ridículo isso, mas ele nem telefonou, e nem vai ligar, e se ligar eu também não quero atender o Israel! Chato, o Rockstar nem tem o meu telefone, e eu aqui correndo o risco de receber uma ligação do meu ex-namorado. Acho que vou procurar um Cineasta que seja mais interessante do que um médico ou do que roqueiros que tocam bateria, guitarra, que tocam tanto ‘baixo’. Ah, eu vou voltar a tirar uma sonequinha, estou com sono! Carol, você me acorda quando a gente chegar lá?
---Acordo! E antes, se eu observar algum Cineasta Gatinho, eu vou pedir o telefone dele.
---Não Carol! Please! Estou com sono! Acorde-me só quando chegar lá e se ver o meu Rockstar em alguma parada dessa estrada ou na rodoviária...
---Sem neuroses, Chiara, sem neuroses! Isso já é psicose. Não vamos encontrar o amigo dos Caras da faculdade. Durma! Descanse! Não deixe passar a estrelinha do beijo.
--- Carol você tomou êxtase outra vez? Que diabos a estrelinha do beijo é?
--- Chiara, dorme, dorme. Não me estresse! Penso que é melhor você dormir, amiga...
Uma brisa batia leve á face dorminhoca de Chiara, no restante da viagem...

Naquela manhã de quarta-feira muito ensolarada e com poucas nuvens ameaçando chuva no céu, elas chegaram á Terra do Nunca. Carol e Chiara pegaram, um táxi porque o “busão” não parou na rodoviária antiga
Risos! Eu também dou risadas aqui pessoas!
Imaginem então como poderia eu descrever esse lugar mágico?
Bom, começamos primeiramente a entender que esta voz que está conversando com você é a consciência de Chiara, e não mesmo uma simples narradora de livros! Ora bolas, eu vou ficar muito brava se você pensar que eu sou apenas a penumbra dessa história divertida...
Namastê! O meu Deus saúda o Deus que habita em você.
Chiara, sempre escuta umas bandas de rock na maior parte de seus dias. E uma delas cantava assim: “vou deixar a vida me levar pra onde ela quiser...”
Penso que a vida trouxe você para a Terra do Nunca! Não falo de Peter Pan, mas, tão divertida quanto. A diferença sutil é que aqui as pessoas crescem e fazem sexo, não á guerra. Guerra, nem mesmo com piratas, aqui tudo tem o poder da flor, tudo pode se resolver por amor...
Então, não fique parado com os seus braços cruzados fingindo que é careta e que não sabe de nada que acontece aqui...
Olhe, olhe logo para o céu...
Seria legal você abrir os braços, rodar, rodar, e dar um grito! Viaje nessa história, viva um romance e experimente tocar o melhor rock. Ou você vai dizer que não sabe o que é sentir um frisson?
Grite, logo! Porque não? Gritou?
Ah, você já deve estar sentindo-se mais aliviado não é mesmo?
Sim, você deixou ir embora com o vento toda aquela coisa ruim que você carrega do seu cotidiano comum, e como já dizia a Tia de Chiara: ’um dia aqui na ‘Cidade de Goyaz’ vale por três dias em qualquer lugar do Planeta, vulgo Terra’!
Agora sorria pessoa! Sorria, dê uma gargalhada interna e solte essa Diva que reside no seu interior melancólico...
Garotos de todas as espécies; liberem-se também...
Vocês podem arrotar aqui. E rir, porque não poderiam rir os homens não é mesmo?
Enquanto isso, Meninas avante: riam, façam guerras de sorrisos pelas ruas afora e que vença a que tiver a alma mais feliz! Ou talvez o P.A mais amigo?
Brincadeirinha! O que vale mesmo é a alma mais feliz.
Ou o tempo passará muito devagar, e tão devagar que vocês serão incapazes de aproveitarem algumas fases. Alguém quer um exemplo?
Penso que a Chiara quis um exemplo...
Ventania, quem sabe foi assim que vieram as respostas de Chiara?
Talvez, o segredo se escondesse na amizade e na saudade de pessoas queridas. Ou no amor que fez molhar ceroulas arrotas, por uma pessoa meio que desconhecida.
Ah, e ter uma amiga-irmã é mais do que fundamental; conversas jogadas ao vento são essenciais...
---Chiara, você se lembra do seu primeiro beijo?
---Ah Carol, foi muito doentio! Foi com o Pablo. Ele era irmão de uma menina que foi minha amiguinha na escola. O conheci fazendo trabalho de artes na casa deles, você pode acreditar?
--- É eu lembro. Pablo era aquele bem gordinho que se parecia com um “potinho”? Ah, um que tinha os olhos bem claros e falava pra todo mundo que ele não precisaria de nada além do carro dele para namorar, pegar todas as garotas e fazer sexo. Isso depois que ele ganhou um carrinho do papai não é?
--- Yeah, esse aí mesmo. Carol, e a Julie você se lembra dela?
---- Lembro demais, ela gostava desse Pablo também e por um tempão ela andou com a gente no colégio, não?
--- Julie, era um amor de menina, vivia pelos cantos chorando pelo Pablo. Quando fiquei com o Pablo, eu não quis magoá-la, eu soube depois que ela era assim, louca por ele...
--- Chiara, essas coisas acontecem e ninguém é de ninguém.
--- Já passou! Ah, Carol escuta essa música dos Caras que eu te falei...
--- Chiara, Cachorro Grande é muito rocknroll, amei! Mas...
“Você tem que olhar a estrada, com uma cara cansada, como uma velha amiga, que você já não agüenta mais.”

---Abaixa esse som Chiara. Pô, Guria eu estou conversando com você, tentando fazer um resuminho emocional para te ajudar a achar o problema de tanta ansiedade. Você foge do assunto. Até parece que ainda gosta do Pablo?
--- Pablo é passado. Carol, você tomou uma estrelinha, só pode ser isso. (Risos)
--- O som é bom, eu já disse, mas, não é hora agora. E eu não tomei nenhuma estrelinha não.
---É hora de escutar música alta sim, Carol! A estrada tem uma cara cansada, eu não gosto mais do Pablo, eu pouco sei sobre o meu passado. Sei eu, que já não agüento mais fazer passeios ao museu de lembranças e do Bundão eu só quero paz.
---Não Senhorita Garibaldi, o Conto de Fadas não é uma canção! Há outras pessoas por aqui, abaixe o som.
---Conto de Fadas é história literária, Carol. Nisso você tem toda a razão, Contos de Fadas nunca foram canções, baterias, ruídos de guitarras ou arranhar do lápis em papéis compondo versos e melodias...
---Sem piadinhas Chiara, sem suas piadas. Sua Palhacinha! (Risadinhas)
---Ah sei! Sem piadinha Chiara, mas, você bem que pode encher meu saco é?
---Não, não estou enchendo o seu saco não. Estou ajudando uma louca a ter equilíbrio emocional.
---Eu, Chiara Garibaldi, desequilibrada emocionalmente?
---Sim!
---Carol, tenha a santa paciência e passa amanhã depois da chuva. Ou você não lembra minha querida amiga que para ter desequilíbrio, primeiramente é preciso de algo para se equilibrar?
--- Chiara, você está cada vez mais filosófica e você está mais louca.
----Eu estou tão solteira, tão singular e se você duvidar, eu posso até voar... _Chiara
--- Você enlouqueceu. Usou drogas?
--- Olha quem diz, não é Caroline Linder?
(Pausa triste e troca de olhares.)
---Ai Chiara! Voar? Conta outra, isso você sempre pôde sua maluquinha! E mais um motivo pelos quais seus relacionamentos nunca dão certo. Você voa! Voa alto, aliás, sempre voa pra muito, muito longe do chão. O chão de giz, onde você já deveria ter rabiscado histórias de sexo, nessa trilha sonora sua de Rock’n Roll pela vida, pela estrada afora, por toda essa história sem Lobo Mau.
---Hunf! Não é assim Carol! Sexo é opção e eu não preciso “poha”, ser uma feiosa, usar óculos de fundo de garrafa, saiotes, ceroulas arrotas e chinelo com meias para ser simplesmente, virgem. Eu, sinceramente, eu não entendo porque tanto preconceito com meninas virgens! E isso é tão bom, isso de ser virgem! Tanto que lá nos EUA, as meninas estão buscando cada vez mais serem menos papéis higiênicos dos homens. Ou você vai me dizer que na hora de ficar com uma guria pra valer, eles vão querer a que eles passaram o tempo inteiro descobrindo os lugares oriundos em drástica companhia?
--- Não surta, Chiara.
--- Ah, Carol! Presta atenção em mim! Claro que, eles vão querer uma singular fantástica companhia, uma novidade, um mistério, eles ainda querem descobrir qual a bodega do amor. E não, passarem a vida inteira repetindo frases decoradas e ganhando brindes de motéis baratos e antes bebendo escassos brindes com as taças e garrafas de vinho de qualquer adega.
--- Chiara, você tem razão. Mas você não precisa ser radical. Sabe o que eu acho?
---O quê?
--- Que devemos bisbilhotar qual feira do livro é essa que está rolando, lá no “Cinemão”, no espaço do Empório SEBRAE.
--- Eh Carol. Agora você teve uma boa idéia minha amiga. Quem sabe eu encontro além de leitura pop, alguns conhecidos por lá?
--- Desculpa qualquer coisa Chiara, eu só quis te ajudar e por mera tentativa persuadi-la ao sexo para se libertar. Você é muito retrô com esse papo de sexo com o homem lindo e maravilhoso.
--- Relaxa, Caroline Linder. Não acredito em homens lindos e maravilhosamente encantadores, não.
--- Chiarinha, mas, uma coisa é muito certa, você tem um tesouro guardado que quase nenhuma menina tem nessa vida. Poucas são fortes como você é. Quase todas são fracas demais. E muitas sinceramente, foram muito enganadas. No entanto minha amiga, nós somos todas femininas e merecemos respeito. E as Gurias Puras como você, com muito Pop Art no coração, podem fazer a diferença por todas nós que já passamos despercebidas por todos esses putos que foram em vão...
--- O que você quer dizer Carol?
--- Barbie, minha querida, atenção! Não faça “merda” depois que você já chegou até aqui! Não fique triste por quem não te merece. Não perca seu astral por alguém que ainda bem, não foi com você desenhar com giz de cera nas paredes brancas de um quarto ensolarado em dia de chuva. Não escute o chamado da raposa mais esperta e sim os ruídos dos pássaros mais alegres. Em outras palavras, se você ainda é virgem, não vá fazer amor ou sexo pela primeira vez com qualquer idiota por uma simples curiosidade. Se precisar, eu empresto pra você o meu “amigo vibra sem dor”.
---Ah, Carol! Dia perfeito hoje, pra dar umas voltas, xeretar a feira do livro no Empório e no Cinema, mesmo. Só não é perfeito para perder a virgindade com um vibrador, acredita?
---- Ninguém mandou você perder a virgindade com um vibrador. O ‘virba sem dor’ é pra depois, é pra ser usado em outras ocasiões.
--- Melhor assim, porque nada foi fácil até hoje...
---Você é um orgulhinho sabia? _Carol
---Sabia!
--- Chiara, sabe o que te estraga?
--- O quê, Sister?
--- Sua obstinação, guria!
--- Ah, Carol é porque eu vejo oportunidades radiantes além dos horizontes, entende?
--- Sua louca, eu tento. Na verdade, estou com fome, aqui na Cidade de Goyaz poderia tanto ter um Capital Steak House!
--- Uh, lá, lá. Isso que eu chamo de fome!
--- Sério, Chiara! Estou faminta!
---Carol, sossega que daqui a pouco a gente come alguma coisa...

Lá na Terra do Nunca, o Sol rachava os paralelepípedos mais antigos. E depois dessa “aventura” das meninas, o mundo nunca mais parou para um choro de dores passadas e corações caçados.
Pois já dizia Shakespeare; ’não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido. O mundo não pára pra que você o conserte’.
Foi assim que as raposas não tiveram vez, não farejaram os doces e nem se esconderam atrás da sombra do bom moço que visitava as meninas nos sonhos. Todos aqueles sonhos, em que Carol e Chiara, ligavam o abajur para uma leitura antes de dormirem.
Chiara Garibaldi era uma menina linda e comum. Ela se apresentava muito bem colorida e feliz sempre por onde passava. Tinha a costa tatuada com cores pastéis sem contornos pretos. Sua tatuagem cobria toda a coluna dorsal com um cachorrinho e um gramofone de onde saíam estrelas do mar, flores japonesas, galhos retorcidos, borboletas multicoloridas, sombreados cinza de vento e notas musicais do trecho de uma de suas canções preferidas dos The Beatles. As pessoas lhe davam muita atenção devido a sua simpatia. Algumas pessoas confundiam o brilho de O Boticário em seus lábios com pingos de cachaça doce. Outras pessoas á odiavam e isso era pura intriga da oposição.
Imagine que os ventos contornavam todo o corpo da doce menina das costas coloridas e assim fosse tão mágico quanto o pó de Fadas em alguns contos.
Ah, e se beijos roubados eram confundidos com estratégias de sonhos?
Ela era apenas uma confusa menina-mulher, o orgulhinho de muitas amigas como Carol e Poli; o dilema para várias intrigas.
Seu sexo era puro e verdadeiro como uma banda antiga de blues á tocar num bar alternativo na Rua Augusta em São Paulo. Sua pele era a mais fina flor que um belo pintor em algum lugar exilado, um dia desenhou. Pois, se Leonardo Da Vinci fosse vivo, ele se encantaria com tanto glamour!
Chiara, pertencia ao time das meninas de peito e embora não fossem seios volumosos com borrachas internas e quentes, eram medianos e suaves. Assim, a balada do amor inabalável convidava o menino a dançar, sem em seus pés pisar, e sem eu seu pênis ela precisar tocar...
Se por outro lado ela era todas as cores do Rock’n Roll, punk, clash, emo, pop, pornô, o Texas?
Não existiam clichês. O mundo era mais do que cosmopolita, o mundo era como desfilar com o melhor sapato de salto alto, Prada.
Chiara, apenas dançava no zumbido que o destino deixava ensurdecer. Amanhecia nos corredores de sua Mansão, sozinha, bebendo Heineken e nunca foi presa como Lindsay Lohan, mas, era fã número um da atriz norte-americana. Com os amigos, mais ouvindo do que contando boas histórias, ela também já amanheceu em seu lar com os amigos.
De cores sempre foram todas as manhãs. Apesar de um destino tão só, ela sempre foi uma Mulher obstinada e deslumbrante que leva no peito um enorme coração alegre. Chiara leva no coração o mesmo sonho comum da maioria das mulheres; namorar, noivar, se casar e ter filhos gêmeos. A sutil diferença entre ela e as outras, é que esse sonho se escondia em seu próprio silêncio. Tão bem escondido, que as pessoas até debochariam da Senhorita Garibaldi se por acaso a vissem cuidar de uma criança. Pessoas iam dizer que: “isso é uma loucura”.
Treze! Muitas treze vezes diferentes! Assim era a Caroline Linder, a melhor amiga de Chiara Garibaldi. Você quer saber como era a Linda Carol?
Menina esperta dos olhos amendoados, corpo acentuado, traseiro avantajado, silhueta de mulher e sorriso de boa amiga. Carol, não media esforços para viver, ela era matemática, ela era incrivelmente real e nunca teve medo do mal. Ou de animais que ruíssem como um único sinal de quem pede por liberdade. Tatuagens em seu ombro esquerdo, gravetos ornamentais pretos e artes. Carol vestia um estilo mais urbano, era autêntica, era livre, despojada e adorava um bom tênis colorido. Ser perua não era sua praia, ser urbana era a sua alma.
Ela sempre seguiu em frente, poucas vezes sentiu medo. Sendo trilhas claras ou de escuridão. Não fantasiou além das histórias de Contos de Fadas. Seu único medo era o mundo encantado que Chiara acreditava existir e um ‘príncipe, no coração. Mas, Carol não conhecia muito bem sua melhor amiga depois de vinte e poucos anos...
Carol era uma lança de fogo do arco e flecha de sua melhor amiga. Ás vezes, ela errava a direção, e incendiava a floresta. Tudo bem, pra tudo sempre houve solução. Afinal, sempre fora tão destemida que nunca evitou provar suas fomes e suas comidas. Ela viajou pelo mundo e trouxe na bagagem a cultura dos lugares que encontrou mais amor. Carol teve mais a presença dos Pais do que de Babás e incrivelmente isso lhe causou na lembrança, muita dor.
Na vida da Senhorita Linder, os redemoinhos giraram ao contrário. Ninguém pode dizer nesse mundo o que é certo ou errado. Tudo por pior que possa parecer, sempre dependerá de um verdadeiro fato. Todos nós escolhemos nossas verdades.
Na bússola o sentido oeste, na vida de Carol, os ventos rugiam para o leste...
Um desses lugares visitados por Carol era tão canibal, que para Chiara, a sopa de letrinhas degustada como prato da gastronomia local, poderia lhe fazer mal. Para Carol eram tão mórbidos e infantis os lugares viajados, que apenas trouxe lembranças para sua amiga escrever sobre coisinhas bonitinhas e sutis. Quem sabe tudo isso virasse roteiro de aventuras pra gravar vídeos em algumas férias?
Pode crer, não há nada que com essas duas amigas não pudesse acontecer...
Caroline Linder é a melhor amiga de Chiara Garibaldi; a menina que está presa no mosaico do tear dos sonhos. Mosaico, onde as agulhas possuem veneno nas pontas, o veneno da falta de amor paternal e maternal. Isso, porque um bom antídoto o dinheiro não pôde comprar...
Sonhos de Menina, sonhos sem nicotina, sonhos sem gasolina, sem álcool, sonhos onde existem ruídos de um trem no fim da linha lhe gritando: ‘ame, sem olhar ao redor’.
Tudo parecia fantástico, surreal.
Ninguém nunca soube quem gritou. Seria o Hank?
Impossível era saber quem era o dono ou dona da voz que implorava por amor. Um sentimento a fluir não apenas pelo destino de Chiara Garibaldi, Caroline Linder ou Poliana Hunter. Mas, o amor mais verdadeiro e que flui com o frescor de pura paz. O amor, que o Woodstock de 1969 trouxe, e poucos levaram a leveza dessa ideologia por toda a vida anos atrás...
Os sonhos são de quem os esperam no frio, num banquinho simples que rema na felicidade?
Esperam por um amor escondido no trem de ferro. E Caroline Linder era a maquinista desse trem, se pensar que a primeira noite de amor e sexo em Contos de Fadas nuca acontece aonde mais convém...
Se fosse possível flutuar em cima de uma nuvem dentro do olho do furacão, quem sabe assim pudesse se explicar porque o amor é tão imprevisível?
Ventava muito lá na Cidade de Goyaz. Penso que era ameaça de chuva...
Empório SEBRAE, lá na feira de livros, as meninas desfilavam glamour por onde passavam...
---Carol, você viu aquele Cara olhando pra cá?
---Vi.
Carol folheava livros sobre como viajar com pouco dinheiro, para lugares frios e sem conhecer idiotas no meio do caminho. Na verdade, ela não tinha visto nenhum cara e o livro nem citava os idiotas.
---Carol, ele está olhando pra você!
---Ah está! Chiara até parece que um Cineasta vai se interessar por mim! Talvez. Mas, hoje não minha querida. Já tem você aqui do meu lado toda colorida e eufórica, quase dizendo: “Oi, sou a Chiara Garibaldi. E eu sou virgem, por isso, você é um idiota e vai fazer tudo o que eu quiser. Até mesmo um filme sobre um assunto qualquer, assunto que eu disser.” Mas, considero que você é quieta demais para explodir sua libido em palavras. Então, deixe isso escorrer no suor da sua testa. Confuso. Hoje não está tão calor. Ah, Chiara, não há suor na sua testa! E nem tenho tanta certeza se você ainda é virgem.
--- Ah, Carol, você ás vezes me confunde e parece que nem me conhece direito. Pra variar me irrita! Que chato, você querer sempre saber se eu dei ou se eu não dei...
--- Você se confunde, Chiara! Amigas compartilham segredos!
--- Eu não me confundo não, Caroline Linder! Só me reservo quanto á alguns assuntos!
--- Você sempre se confunde Chiara. Ser virgem é uma mesmice.
--- Carol, agora a pouco você tinha falado que...
--- Desculpa, desculpa... Não é uma mesmice. Mas, tente entender que para mim e para metade das meninas que já descobriram o sexo, você é confusa. Você nos irrita. Você, fantástica Chiara Garibaldi! Você nos irrita com esse ar de rock and roll virgem...
--- Eu?
--- Ah, Chiara para mim tudo bem! Você não é ameaça de nada, pois, você é minha melhor amiga. Mas, atenção! Pra todas as outras que não são suas ‘amigas’, você é a “carne fresca” do pedaço, compreende?
--- Não muito. Ah, eu sempre soube que você era confusa, Carol...
---Chiara, você é o centro das atenções! E depois, umas espertinhas vão querer lhe dizer; que homens não gostam de mulheres virgens. Mentira! Virgindade só é complicada, se o cara for virgem, porque assim ele pode correr o risco de errar o buraco, do contrário, é um prazer enorme para eles. Lembre-se disso aconteça o que acontecer com a sua primeira vez! Mesmo que você perca a sua virgindade com um bissexual.
---Ah, vou lembrar e disso. Já você, pare de agourar a primeira noite de sexo selvagem dos outros, viu?
---Não estou agourando nada de ninguém, Chiara.
---Ok, Carol! Ah, eu também sempre soube tudo isso que você disse...
---E, todo mundo sabe o que você sabe. Aliás, não é por nada que Chiara, você é a guardiã do tesouro perdido de tantas outras mulheres. Amiga, um dia você vai se frustrar com o Orkut dele, você vai ter transado com ele, se apaixonado e chorado ao ver a mulherada no Orkut desse Cara, ou como você quiser o chamar. Você me dirá que aquilo na net é um ‘Navio Pirata’ e ainda assim terá vantagens sem perceber, por ser virgem. Porque em ‘Navios Piratas’ só tem canhões e um tesouro que é você! Isso por todas elas que vão querer o que você quer, elas são apenas frustradas, arrependidas, desoladas e recalcadas. Ou são alegres, felizes, bem resolvidas, ativas, espontâneas, e qualquer outra coisa legal que se descubra após ser respeitada, amada e reconhecida por um grande homem. Pena! Só encontrei os pequenos homens da sociedade até hoje. Mas, Chiara você poderá dizer que os homens são putos e nunca as amigas! Melhor do que isso, você pode ter o Cara que você quiser. Por que você insiste nesse Rockstar que não gosta nem dele mesmo?
--- Porque eu senti nos braços dele o que ninguém pode ver na postura social dele. E Caroline Linder. Você não é estorvo de pequenos homens. Você é uma grande revolucionária que...
---Se entrega e se estraga e chora por todos eles?
---Não! Carol, você é uma pessoa boa. Uma linda mulher e tudo bem que ás vezes, você exagera mesmo. Mas, isso não quer dizer que você não mereça ser amada, respeitada, bem cuidada e idolatrada no coração de um Grande Homem! Você é a Carol minha melhor amiga, e você não é Carol como tantas ‘Caróis’ que existem por ai procurando dar, dar sementes, dar resultados, Carol você entende o verbo dar?
---Não exagere, nem filosofe muito, Chiara!
--- Não é exagero, é apenas fato que o verbo dar nunca foi sinônimo do verbo: amar!
Na feira de livros, ventinhos de chuva aromatizavam toda a atmosfera com ventinhos que entravam na feira sem desarrumar nenhum livro.
Como uma garota de vestido branco e botinhas caramelo texanas estilo The Beatles, com um enfeite colorido nas madeixas ao vento, Chiara Garibaldi se decidiu não revelar sua virgindade nem mesmo na sua primeira noite de amor, sexo, drogas lícitas e rock and roll. Não existiam muitos motivos para tal escolha, existia uma única razão feminista; não se apaixonar na primeira vez que transar. E quem sabe esse seria o segredo mais amargo que ela poderia esconder?
Talvez fosse muito amargo. Mas, se todos os segredos que guardamos fossem doces, não precisaríamos guardá-los em nosso coração, em nossa consciência e nem mesmo na sombra de nossos pecados.
Lá na Cidade de Goyaz, o céu estava degrade de lilás e cinza, as nuvens carregadas, os ventos mais fortes e a chuva ainda não fazia parte de nenhum show. Quem sabe a Senhora Chuva lá nos céus discutia com Cazuza como lavar a alma de Chiara para deixar ao coração dizer todas as coisas que são do coração?
Se com tantos segredos a vida se torna menos leve?
Naquela quarta-feira, 9 de Junho de 2010, Carol e Chiara tinham que aprender com o frescor da ventania que a vida é assim louca, e que Cazuza estava certo ao dizer que precisamos deixar que a vida nos leve...
No céu, as nuvens brincavam de desenhar um lindo coração!
--- Verbo dar, verbo amar! É, e as Meninas como você Chiara, estão à frente de todas nós. Por mais que a sociedade diga que tudo isso é uma bobagem, a pior hipocrisia é essa; deles dizerem que mulheres possuem direitos iguais. Mas, ao escolher eles nunca reciclam a libido de idéias com quem eles se acomodaram por algum tempo...
---Isso é canalhice, Caroline!
---Chiara, o amor é um relacionamento sem cheiro e sem sabor. O amor deveria ser tão sublime quanto a uma nuvem ao tato e tão sonoro quanto um sussurro ao arrepio.
---Carol, eu discordo e não quero discutir mais. E voltando a falar do Cineasta, ele ainda está ali...
---Acho que ele tirou uma foto sua Chiara.
--- Foto minha, Carol?
--- Amiga, não tenho a impressão, eu vi de relance ele tirando uma fotografia sua.
--- Carol, quem ele pensa que é? Para fotografar Chiara Garibaldi?
--- Chiara, respira, acalme-se. Pode ser que ele clicou uma foto sem ser você o foco...
--- Isso está muito estranho, Carol.
--- Ah, e o que você vai fazer agora?
--- Nada, Carol, não há nada que eu possa fazer. Aliás, tem algo sim que eu vou fazer e muito legal pra relaxar. Você aceita Coca-Cola?
Trovões caíram naquele instante no fim da tarde de sol. Chiara não estava só, ela não teve medo dos fantasmas de sua voz e não poupou arranhões com o cara a sós...
---Você! _ Exclamou Chiara com raiva.
---Como vai bela Menina?
--- Bem, e que foto é essa? Se você quer uma fotografia minha, pode pedir.
---Carol, ela é sempre assim?
---Você o conhece, Carol?
---Não, Chiara.
--- Engraçado não se conhecerem e ele saber o seu nome, Flor.
---Eu prestei atenção na conversa de vocês. Eu estava na banca ao lado, folheando livros sobre o cinema moderno.
---Ah. _Carol
---Belos nomes os de vocês, Chiara e Caroline!
---Obrigada. _ Carol
---Obrigada, também.
---Você vem sempre aqui? Qual o seu nome? _Carol
Chiara continuou confusa, afoita e com uma pontinha de raiva no peito. Sua latinha de refrigerante já tinha secado e ido para o lixo reciclável...
--- Podem me chamar de Caio. E aquele ali olhando umas guitarras é o João Paulo, mais conhecido como Paul.
Uma lágrima desceu na face esquerda de Chiara quando ela percebeu quem era João Paulo e se apavorou com a situação desse Cineasta estar interessado nela. Isso é o que Chiara em seus pensamentos chamou de azar. Rapidamente, ela enxugou sua lágrima sem que ninguém percebesse. Ela sentiu vontade de sair correndo pra bem longe da feira de livros. Não, ela sentiu vontade de puxar pela mão João Paulo e sair correndo juntos até o Café Colonial...
Ventania mais forte e os livros se abriam sozinhos. Isso era bom para refrescar a cuca de quem com simples coisinhas da vida não ‘desencuca’...
Ventania!
--- Caio, eu tenho a impressão que eu o conheço de algum lugar.
--- Quem você conhece Carol? O Caio ou o Paul?
--- Paul, claro.
--- Ah, e eu tenho certeza de que eu conheço o Paul. Mas, eu não consigo me lembrar de onde e ele está de perfil, não estou enxergando-o muito bem...
--- Talvez, Chiara. Paul toca bateria e guitarra em algumas bandas por aí...
--- Legal, deve ser por isso que para mim Paul não me é mesmo tão estranho.
---Provável, ele já tocou numas bandinhas que tem clipes na MTv.
--- Uhm, adoro MTv. Mas, a Carol gosta muito mais de roqueiros do que eu. _Chiara disse isso com o coração apertado pra disfarçar o interesse em Paul e para jogar no verde com a amizade de Carol, pra saber se a amiga era ‘fura olho’.
--- Argh! Chiara e suas gozações...
--- Não gozei, foi apenas um comentário, Carol.
--- Pô, Carol se você quiser conhecê-lo eu te apresento o Paul?
--- Não, muito obrigada, Caio.
--- Ok! Muito prazer. Mas, que foto era aquela, Caio? _Chiara
---Bom era pra ser uma surpresa para hoje a noite Chiara. Pensei que a encontraria em algum lugar da cidade. Então que eu pudesse ter revelado a fotografia e dedicado algo do meu trabalho para você.
---- Espere Caio, você me fotografou por agora e a Carol viu isso. Como revelará uma fotografia no final do dia aqui na Cidade de Goyaz, se houver algum estúdio, acredito que esteja fechado á essa hora. _ Chiara tentou sentir-se aliviada com essa desculpa.
--- Argh! Não dá nem para inventar uma desculpa pra te chamar para sair? _Caio
---Não dá para inventar desculpa nenhuma, prefiro os homens sinceros, diretos.
---Ah, a Chiara pensou que você era Cineasta, não fotógrafo.
---Mas, eu sou Cineasta sim e tem um filme meu competindo na Amostra da ABD. No entanto, eu sou maluco com fotografias, amo fotografar e me encantei por Chiara, principalmente pelos pés...
---O meu pé? O que você viu no meu pé?
---Chiara você tem um lindo pé. Olhe, repare os contornos do teu pé!
---Não sei, eu não acho muito bonito os meus pés.
--- Como você entregará a foto para minha amiga, Caio?
---Se ela me permitir, Carol, eu pretendo convidá-la para um jantar lá no Café Colonial.
---Lá não serve jantas. _ Chiara
---Ah, não? Então o que servem lá? _Caio.
---Crepes, cafés, drinques, chocolates-quentes com morango e chantilly...
--- Se a Chiara preferir jantar em outro lugar, e depois irmos a este Café para apreciar crepes como sobremesas, porque não?
--- Muito obrigada Caio! Mas, eu encontro você na ponte de Cora Coralina ás nove. Aliás, converse comigo na próxima vez ao invés de se explicar tanto para a Caroline. Ela é a minha melhor amiga, não a sua e muito menos uma coruja de recados para você passar informações.
Chiara saiu e foi olhar umas guitarras...
---Ah, não se preocupe com ela Caio, ela é sempre assim, arisca com qualquer homem.
---Ela é virgem?
---Não interessa! É bom mesmo, ela apenas se encontrar com você na ponte. Tchau!
--- Carol, relaxe. Vamos beber uma Heineken?
--- Ok, muito obrigada pela cerveja. E eu estou de saída, fique bem até chegar á ponte...
Carol saiu ligeiramente de perto de Caio, sem ouvir o que ele tinha a continuar á dizer e disposta a não contar nada para Chiara, ou nem as fotos ela buscaria.
Mais ou menos ás nove horas, Chiara se encontrou na ponte de Cora com o amigo muito chato de Paul, o Caio.
--- Aqui estão as suas fotos Chiara.
--- Muito obrigada, Caio.
--- Posso te pedir uma coisa?
--- Depende!
--- Simples coisa que só você pode fazer por mim, Chiara.
--- Depende, já falei.
--- Feche os olhos, por favor?
--- Para quê?
--- Surpresa Chiara, surpresa agradável.
--- Tudo bem, já que você tanto insiste. Droga, eu não deveria confiar num estranho...
Caio se aproximou de Chiara para roubar um beijo, e ela o empurrou. Não o beijou!
--- Caio, por favor, não insista.
--- Ah, bela menina, porque não?
--- Não me beije, e, é melhor eu ir embora.
--- Menina dos lindos pés. Fico eu aqui sem um beijo teu?
--- Sim!
--- Princesa minha, não faça assim comigo!
--- Não sou Princesa, nunca fui sua!
--- Chiara, tu és bela demais, e eu não vou ficar aqui dizendo isso porque tu já sabes como és linda. Tu és muito convencida, e eu não lhes tiro a razão. No teu lugar eu também seria assim. Ah, um beijo apenas Chiara, um doce beijo?
--- Pô meu, por favor, não insista vai... Eu não quero um beijo doce, nem um beijo azedo vai...
--- Chiara, foi um prazer conhecer você, e se você não pôde perceber, eu não tirei os olhos de sua beleza nenhum minuto.
--- Chiara beija ele logo! _ resmungou Carol
--- Não Carol! Ah, dê licença, por favor, Carol!
--- Chiara vou lhe esperar lá no Café Colonial. E amiga, ou o beija ou você cometerá um grande erro...
--- Grande erro?
Carol foi para o Café Colonial sem respondê-la.
--- Chiara, você gosta do Café Colonial?
--- Adoro. Você conhece esse lugar mágico, Caio?
--- Um pouco. Chiara, esqueça o beijo. Você aceita tomar um chá ou um café ou qualquer outro drinque aqui?
--- Sem beijos?
--- Como você quiser bela menina.
--- Aceito! Será divertido, Caio...
Lá no Colonial Café, o Mundo gira diferente...
--- Sente-se, fique à vontade.
--- O que vocês vão querer?
--- Uma caipirinha para mim. _ Chiara
--- Eu acompanho a Princesinha. _ Caio
Ouviu-se um risinho da jovem Senhora que os atendia...
--- E você, aceita algo?
--- Um chocolate quente, por favor?
--- E crepes, vocês aceitam?
--- Nutella com morangos, por favor. _ Carol
--- Yeah, vou querer um desse também. _ Chiara
--- Então são três crepes de nutella com morangos, por favor. _ Caio
--- Com licença, não vou demorar... _ A Senhora.
Naquela noite, as bandas não estavam tocando ou ensaiando algum som por lá. Mas, tinha um som da Janis Joplin animando e relembrando o Woodstock. Um som que saía do gramofone dourado. Vinte minutos depois...
--- Aqui estão, os crepes, as caipirinhas e o chocolate quente. Tenham uma boa noite.
--- Obrigada. _ Os três.
--- Disponham-se.
--- Carol e Caio, vamos brindar ao Festival Internacional de Cinema Ambiental?
--- Ah, ótima idéia!
--- Mesmo porque, se não fosse o Festival você e Chiara não teriam se conhecido.
--- Carol, quieta! O Caio é só um novo amigo e nada mais.
--- Não se preocupe, ela está certa Chiara. Porque não aceitas um convite para ver estrelas ao sair daqui?
--- A Carol pode ir conosco?
--- Sim, sem problemas...
---Não, não posso ir com vocês, sabe o que é? Eu marquei um compromisso com alguém que ainda não descobri quem...
--- Agora?
--- Sim, e eu já estou atrasada, com licença...
--- Mas, Carol você nem sabe...
--- Carol, não precisa de dinheiro. Eu faço questão...
--- Muito obrigada, Caio. Ah, e cuide bem da Chiara. E Chiara, abaixe a guarda pro garoto.
--- Tchau Carol. Você tem as chaves?
--- Tenho, aliás, não é melhor você ter as chaves, não?
--- Não!
---Bom, é vocês quem sabem! E se precisar das chaves, liguem no meu celular.
--- Boa noite, Carol!
--- Divirtam-se!
Carol foi ver umas bandinhas de rock no Empório SEBRAE onde também ficava o cinema. E Chiara, muito sem graça, apoiou a mão direita no queixo, o cotovelo sobre a mesa e sorriu levemente, encarando Caio como quem encara o adversário ao jogar ‘War’...
Ele não pensava em outra coisa além de um enorme beijo. Foi assim que eles ficaram durante toda a madrugada conversando lá no Café Colonial. Caio nem percebeu todas as armas e estratégias de Chiara como se estivesse em um jogo de tabuleiro.
Ela contou sobre sua infância, seus segredos e seus amigos. Descoloriu o mundo cor-de-rosa que Caio imaginou que ela morasse. Chiara, narrou com um olhar misterioso todo o desejo que ela sentia por ele, ela narrou nas entrelinhas da conversa como sua ceroula arrota estava úmida. Ela, narrou um sentimento puro e verdadeiro debaixo dos lençóis de sua imaginação. Mas, ele nunca leu bibliografias de artistas do rock para perceber tão sutil é o aroma de sexo, frenesi e amor.
Ah, enquanto ele contou tudo sobre o amor ao cinema e o seu curso de medicina no Rio de Janeiro, ela se remexia na cadeira para secar sua ceroula arrota, cruzava e descruzava as pernas, ela sorria como uma Gueixa e tinha vontade de tomar uma dose de absinto com um torrão de açúcar para equilibrar seu frenesi. O gramofone não tocava o rock preferido de Chiara e Caio lhe dizia algo sobre o esquema medicina, faculdade de medicina e televisão com uma vasilha de mamão picadinho e açúcar. Ufa! Caio falou também sobre as estranhezas dessa vocação de acadêmico de medicina e Cineasta...
Chiara não tinha preconceitos com os fatos e acasos, ela pensou que ele era apenas mais um no meio de muitos outros médicos não muito bem resolvidos e xeretas às artes. Pensou que ele era mascarado como arteiro...
Na dúvida ela jogou uma moeda tipo cara ou coroa que dizia Rockstar ou Cineasta. A moedinha caiu dentro do poço dos desejos e o fundo estava negro pelo lodo...
No Café Colonial tinha um espaço ao ar livre, eles deram uma volta por lá e olharam pro céu maravilhoso que parecia chover estrelas. Se Raulzito fosse vivo, ele tocaria violão por lá, apenas para compor debaixo do céu mágico de chuva de estrelas. Céu que Chiara nas canções de Raul Seixas, não viu...
--- Então a Senhorita Garibaldi, estuda cinema em São Paulo?
--- Estudo. E você, Doutor Caio Heineker será um futuro médico?
--- Ainda, não me decidi. Estou na metade do curso. Posso largar tudo e ser o seu Cineasta maluco, o que pensas?
--- Você não seria louco o suficiente para isso! Mesmo porque seria ridículo, desculpe-me tais palavras.
--- Seria, eu infinitamente, eu seria, por você, maluco. Eu seria muito louco e até ridículo se você quiser!
Nesse momento Chiara Garibaldi se sentiu a alienígena parada na porta de um clube cheio de gente numa festa de Medicina. Sorte que era um festival de cinema, não um sentimento de quem estaria dentro de seu carro, esperando a sua prima sair da festa para levá-la para casa. Literalmente fugindo de uma festa de Medicina. E de repente quando liga o carro percebe que o pneu está furado e desce de pijama de estrelinhas e pantufas para trocar o maldito pneu. E é surpreendida pela gentileza de um futuro médico. E logo quando saí com o carro e olha pelo retrovisor o vê beijando um cara. Sinceramente, é como diz o ditado: ‘laranja madura na beira da estrada ou está podre ou azeda’. Ela se sente assim meio podre ao ouvir tantas besteiras de Caio e meio azeda por ser incapaz de fazê-lo ter um pouco de bom senso e não debochar da sétima arte.
Caio segurou firme a mão esquerda de Chiara e a beijou. Um beijo ardente e sutil, como uma nuvem de Verão que desliza no céu de Inverno...
Chiara, flutuava em céus de marmelada em seus pensamentos e nada de encontrar suas flores de papel celofane para enfeitar os cabelos, pois, Caio não era um bom ‘roqueiro’.
E o tempo com tanta histeria no coração, o tempo, no relógio de pulso quase parou...
--- Você é maluco, Caio!
--- Você é linda, Chiara. Você pode me deixar maluco sempre, e eu serei o maluco mais maluco, o maluco mais feliz do mundo ao seu lado, querida Princesa!
Pausa, para Chiara pensar que tudo isso está brega. E você o que acha?
Meio-ambiente, a natureza murcha todas as suas rosas vermelhas por puro constrangimento, porque ali no Festival Internacional de Cinema Ambiental, as rosas eram presentes que pertenciam aos truques de bons galanteadores românticos, não alguns fajutos rapazes que não sabem o que querem da vida...
--- Ah, mas não largue a Medicina por mim. _ disse Chiara.
--- Então, largarei por quê?
--- Não largue a Medicina. Vejo medicina á em você, Caio. Eu sinto tanto amor quando tu falas sobre corpos, ossos e mentes humanas. Claro que o amor que sai de seu coração em relação á qualquer paciente ou doença.
--- Será?
--- Sim. Caio! Doutor Heineker. Você será um ótimo médico!
--- Amor, eu posso ser o seu Cineasta, não o seu Médico!
--- Ah, pára! Essa foi muita sem graça! E eu nunca transei com um Cineasta, nem com um médico e nem será hoje.
--- Chiara, eu não quis te ofender. Amor, eu não concordo! Ou você acredita que exista amor maior do que à Sétima Arte?
--- Não existe! Ah, Caio! O cinema, eu não sei explicar as controvérsias que existem do cinema á você...
Olhares foram trocados, eram confusos e risos soltos pelo ar. Difusos a soarem algo engraçado naquele momento tão nostálgico que nem o Cinema poderia explicar...
Momento que Chiara não se aproximava de sentir algo para dar, muito menos pra amar. Momento que ela ainda sentia sua ceroula arrota molhada entre as suas pernas. E isso era como dizer que o rock sobrevive de pequenos rios de gelatina incolor que está na geladeira á menos de uma hora?
Não sei. Aliás, ás vezes é bom se fazer de gelatina e passar pela vida de um jeito trêmulo para passar o tempo dentro da geladeira, dentro das convicções de quem mal nos conhece.
--- Chiara, você pode fazer um pedido á fonte?
--- Você acredita em fonte dos desejos?
--- Não muito, mas, hoje eu queria muito que realizasse os nossos desejos.
--- Ah, eu quero, se tu queres também. Mesmo que eu não acredite nisso, lembre-se.
--- Venha e me dê sua mão. Aqui está uma moeda, sua moeda de sorte. Pois, sou um ótimo rapaz!
--- Engraçado você. Mas, não podemos contar o desejo, é assim que funciona...
--- Deseje então, pode ser o que quiser. Jogue a moedinha!
--- Ploft! Caiu?
--- Confesso que passou um pouco longe, e caiu. O que você desejou?
--- Não posso contar! Caio, é a sua vez! Argh, eu continuo a achar isso bobo, mas, é a sua vez...
No mesmo minuto que Caio jogava a moeda, Chiara desejou um dia conhecer o Rockstar que suas amigas tinham visto num show bar da Rua Augusta em Sampa, num dia que ela não pôde ir. Pois, tinha ido visitar a Poli na Califórnia. E isso seria muita sacanagem com o Cineasta?
Talvez! Mas, como é possível controlar os desejos do coração ao escutar tantos ruídos de um som do Woodstock?
E por um triz desse fato lembrar e sentir vontade de apenas isso desejar?
--- Ploft! Caiu?
--- Não! Hehehe
---Então, perdi meu desejo?
---Não!
---Não, Chiara?
--- Caio eu acho essa fonte uma bobagem, esqueça isso, guarde suas moedas.
--- Tudo bem, agora eu já joguei outra vez mesmo uma nova moeda, e não acertei.
--- Yeah, nós vamos lá, você pode ter uma segunda chance, por que não?
---Tudo bem. Agora eu vou acertar. Torce por mim?
--- Uhm, então nós veremos no que eu posso ajudar. Bom, eu sempre soube que eu era difícil. Então, tente novamente! Jogue a moeda logo, jogue! Não será tão complexo quanto Las Vegas. Nem vou querer me casar com você se acaso acertar essa moeda da sorte...
Confusa e com vontade de deitar-se ao lado de um Rockstar lindo que lhe cantasse um pouco de The Beatles até o seu sono surgir. Ela se calou um pouco e observou atenciosamente, Caio.
--- Convencida você, linda Guria!
--- Ah, convencida eu? Isso é você quem diz.
--- Ploft! Caiu!
--- Yeah, a moedinha caiu na fonte. _Disse com desânimo, Chiara.
--- Podemos ir Chiara?
--- Aonde?
--- Ver estrelas. Não foi esse o nosso combinado?
--- Aonde vamos ver as estrelas?
--- No chão de estrelas!
--- Chão de estrelas?
--- Surpresa.
--- Ah, te conheço muito pouco para confiar em suas surpresas.
--- Me dê um abraço?
--- Você quer um abraço?
--- Yeah, você sabe Chiara, as pessoas se beijam muito, e as pessoas almejam sexo o tempo inteiro. Poucas conseguem gostar e sentir um verdadeiro abraço de verdade. Raras pessoas pedem um abraço, e precisam de um conforto entre braços!
--- Seu abraço é tão carinhoso, quente e cheiroso. Ops! Eu falei demais! Era pra ser apenas um abraço, não é?
--- Não se sinta envergonhada. Você foi apenas sincera, e isso é uma virtude. Bom, você parece esconder vários segredos e virtudes, não? Acredito muito que você seja uma Guria muito especial.
A noite de estrelas, não escondia a lanterna mágica com três desejos, mas, a fonte com dois segredos.
Chiara Garibaldi e Caio Heineker, percorreram todos os lugares legais, foram até o Empório que já havia fechado e lá na Praça do Coreto as barraquinhas estavam desocupadas, já era tarde e a cidade esvaziava...
O Café Colonial estava fechado. A temperatura marcou cinco graus aos arredores do Rio Vermelho. O frio era o melhor amigo. Os abraços dele, o melhor abrigo. Uhm, o sexo dele?
Perigo! Acredita-se que é muito ruim ter uma noite de sexo com quem a ceroula arrota não se encharca.
Mãos geladas, trêmulas, ceroulas arrotas secas e corações desconfiados um do outro. Será que aquilo era apenas um sonho de Inverno?
Tudo aquilo poderia levá-los para o inferno?
Ou Chiara poderia fechar os olhos e imaginar que corria nua com seu ‘amigo colorido’ pelas nuvens, com flores de celofane nos cabelos e rodeada por estrelas de diamantes?
Será que, apenas poderiam se encontrar após o Festival de Cinema?
Ou será que momentos felizes são as saudades do mal?
Saudades que surgem por quem não está naquele tal momento ao nosso lado.
E são como nostálgicos dias que repulsam em nossa memória aqueles momentos tão felizes que você já passou com o Cara de suas memórias ou apenas imaginou passar. Rascunhos de memórias como madrugadas numa casinha com janelas de madeira e vinil á tocar no gramofone?
Se pelo menos por uma semana, ser uma garota na Cidade de Goyaz fosse como nascer da libido sexual de um dos The Beatles, quem sabe assim Chiara e Caroline, poderiam ter prazer em momentos nostálgicos?
Ou apenas não estar passeando de mãos dadas com um Cara e pensando em outro; sozinhas.
Respostas e perguntas confusas. Mas, como aproveitar o minuto sempre foi mais importante?
Naquela noite, naquela madrugada fria, talvez, o melhor desejo de Carol e Chiara fosse que relógios se quebrassem. Ainda assim, devagar o tempo passaria...
Os risos e sorrisos se encarregavam de serem as legendas dos pulsos daqueles corações estonteantes como se tudo fosse um sinal?
E quem garante que o riso e o sorriso não era um disfarce de quem na verdade, dentro do peito, do corpo e da mente só passava mal?
Ninguém!
Apostas sempre são feitas no jogo do amor, principalmente quando o amor não faz parte do time.
Libido, frenesi e orgasmo eram quase rivais naquele Inverno. Talvez, se um dia eles viajassem para a América do Norte no mês de Junho, quem sabe lá seria Verão?
Ali beira-rio, fumando um cigarro de mentolado eles estavam juntos, bebendo Heinekens até o sol raiar...
Sol, que poderia ser tão amigo quanto tão inimigo. Já no fundo do coração a briga era outra, e andorinhas não faziam apenas parte do Verão.
Poli, a outra ‘sister’ de Chiara e Carol, estava nos EUA. Lá, ela poderia estar se divertindo com brinquedinhos bem quentes tipo Ping Pong de praia que no Verão faz transpirar?
Ou poderia estar no Texas, Bahamas, Malibu ou mesmo antes de vir para o Brasil, ter dado uma passadinha em Madagascar?
Era melhor deixar a Poli viajar...
Ah, foi só uma simples comparação, acho que me sinto um pouco cansada e sonolenta como a Chiara nesta história, ou não...
O sono era um velho amigo, e a estrada de volta para casa, era longa demais para que um deles pudesse se levantar...
Dormir em meio á natureza não era a melhor opção, nem tinha nada romântico com formigas cutucando as partes intimas. Mas, foi á opção menos constrangedora á sonolência naquele momento.
Aconchegaram-se ombro a ombro, e cochilaram abraçados ouvindo o barulhinho do rio passar.
Chiara, preferiria estar na cidade de Nova York, observando a Times Square, ou perdida no Deserto Texano ou no Coreto da praça ali mesmo na Cidade de Goyaz. Do que estar atirada no chão frio, na natureza viva e sem ouvir um bom rock naquela madrugada que se transformou numa manhã de orvalho...
Algum tempo depois, alguns raios de sol ofuscavam seus olhos devagar, para um novo dia que acabou de começar...
Para um orvalho que se derreteu, uma noite de sexo que não aconteceu e para um romance que dentro de dois corações não floresceu.
Chiara coçou os olhos devagar, espreguiçou-se, se perguntou o que fazia ali, pegou um espelho em sua bolsa e percebeu que não tinha como existir algo pior. Discretamente bocejou, abriu uma bala de hortelã forte, colocou-a na boca, esperou uns minutos, bocejou de novo e seu mau hálito matinal tinha sido exterminado. Raiva era tudo o que ela sentia de Carol. Imaginou mil dragões em sua imaginação, imaginou que sua amiga-irmã estava com o Rockstar de seu coração. Ódio!
Olhou com ar de candura para Caio, pensou que poderia forçar a barra pra gostar dele, pensou facilmente resolver todos os problemas emocionais e logo desistiu. Ela era inteligente pra saber que não se deve tapar o Sol com as mãos.
Sem nada para fazer, esperando o Cineasta acordar, ela observava a paisagem ao seu redor...
Lá adiante tinha um outdoor dizendo que Coca-Cola é o único refrigerante que refresca mais, há também um letreiro colorido da Subway provocando fome de café da manhã. Mas, a lanchonete temporária de rodinhas estava fechada.
Chiara sentia fome, raiva e quanto mais sentia raiva, mais sentia fome.
Yeah, a estrada é longa, a estrada é uma deliciosa distância á se percorrer... (Risos)

--- Bom dia! Amor!
--- Bom dia! Querido amor! _ Chiara
--- Dormimos ao relento, não?
--- Nem senti frio, foi tão forte teu acalento, Caio! _ Chiara se segurou para não rir dessa cena romântica que aconteceu com ela em tempo real, não era pesadelo, muito menos um sonho.
--- Obrigada. Há tempos eu não ouvia o coração de uma menina, que valesse a pena descansar simplesmente aconchegada sem nada mais...
Atenção! Todos os homens possuem essa capacidade imbecil de mentir. Fato, eles querem transar com você num outro dia. E não reclamem, porque se a mulher não tivesse exagerado tanto em ser igual aos homens, isso não aconteceria com tanta estupidez. É apenas um caso físico de ação e reação!
--- Obrigada pelo nada mais! Isso me deixa tão feliz, Caio! (Irônica)
Ilusão e outra mentira. Homens, eles não entendem as mulheres, eles compreendem e gozam da situação. Aliás, Chiara não era uma rosa tão lisa e sensível assim, ela era como as Tulipas, capazes de florescer de forma tão inimaginável que você nunca poderá ter certeza sobre suas performances de encanto...
Enquete, ela era doce como uma virgem, era uma. Todavia, faria sexo sem um anel de brilhantes!
--- Chiara, eu entendo você. E mesmo que duvides de mim, ainda que cedo demais para dizer, eu apenas sinto que você é um enorme amor.
Se até eu sinto vontade de vomitar com uma cena romântica e brega assim, imagine Chiara.
A verdade é que ‘Mulheres e Homossexuais Passivos’ sempre vão ouvir certas ‘mentirinhas’ para que o mundo possa ser mais colorido e feliz para quem as mentirinhas contam.
Uhm! Melhor, para que o sexo seja mais selvagem, livre, amado, saudável e descontraído para quem as ceroulas arrotas, se molham?
Mais ou menos isso. O amor por um ponto de vista assim, será no mínimo enorme. E porque não dizer infinito?
Isso vai depender da capacidade de libido ativa em cada pessoa, em cada casal. Aliás, faça uma coisa por você mesma, que ninguém poderá fazer por você; viva!
Não se preocupe muito com o mundo á sua volta, acredito que você tem bom senso nato e isso lhe será suficiente. Viva, seja livre, seja feliz e não há no mundo algo melhor do que ser você mesma. Não se rotule, não escolha uma máscara ou um personagem para se fantasiar. Você quer superar os homens?
Seja feminina, exale o feminismo, seja Mulher, seja doce, seja esperta, atenta, esteja viva e seja mais uma vez, apenas você mesma.
Homens, eles se exageram em quase tudo, principalmente se forem discípulos do Homer Simpson?
Não goze em você mesma, ria de tudo com leveza e tranqüilidade. Dê uma Heineken ou uma caixinha de Heineken, que o seu Homem largará tudo para prestigiar o presente. Ah, mesmo que de forma cientificamente carnal, ele também prestigiará você!
Ventos refrescaram a raiva que habitou Chiara, e ela se deu uma chance ao tal ‘amor’...
--- Por favor, Caio, deixe-me acreditar que tudo é de verdade e que dessa história a dor no coração nunca terá cor?
--- Cor? Como assim cor? Você me confunde minha Princesa!
--- Cor! A qual a dor do coração, desbota aos poucos ou nunca tem cor. Mas, se cor houver que seja preta e branca. Enquanto estivermos colorindo tudo que o nosso amor desenhar, as dores da inveja alheia em nossa história nunca haverá papel para se interpretar! _ Chiara
--- Chiara, Chiara, você é especial Guria minha! Só você simplesmente faz o meu mundo rodar...
--- Vamos dançar?
--- Sem música?
--- Sim, sinta o cheiro da natureza, o som das águas do rio e os pássaros a cantar...
--- Eis a nossa valsa?
--- Nem só de rock se vive uma vida querida menina.
--- Mas quem disse que esse som dos pássaros, das águas do rio e do ar. Não é rock’n roll?
--- Chiara, talvez você tenha razão. Mas vamos, rodar, rodar e rodar...
--- Seu maluco, eu te amo! E a Dona Nutya tinha razão, ainda existem valsas...
--- Minha Princesa, pra sempre minha. Longe ou perto, minha menina. Sempre você dançará a valsa que no meu peito eu guardo como minha. Mesmo que outras pessoas olhem e digam que juntos nós não sabemos dançar, não se esqueça Chiara que não importa o que acontecer é você a garota de Vênus que eu escolhi para envelhecer na varanda e para sempre amar... _Caio
--- Caio! Namastê! O meu Deus saúda o Deus que habita em você! E você me faz tão feliz...
--- Vamos comer alguma coisa, estou com fome e você minha linda?
--- Uhm, um suco de cajuzinho e um pastel? _ Chiara
--- Podemos ir ao mercado, já deve estar aberto. Mas, que bela refeição para a Garota de um Médico, não?
--- Ih, você não ia largar a medicina e ser o meu Cineasta Maluco?
--- Ah, é eu ia?
--- Brincadeirinha! Dr. Caio! Ah, antes de qualquer coisa você é Homem, lembre-se disso, tudo bem?
--- Você quem manda, Chiara.
--- Vamos comer o pastel e tomar o suco de cajazinho, Caio?
--- Tudo bem, ora, ora. Vamos lá ao mercado comer esse pastel e beber um ultra, mega gelado suco de cajuzinho. Mas não acostume com as comidas erradas, calóricas, pois, eu ainda insisto em cuidar de você, viu minha linda?
Pausa! O romantismo neste momento se tornou um tanto ‘tosco’, meloso, açucarado e quem concorda que a medicina está á parte das coisas chatas, coloque o dedo...
Ih, melhor não! Não coloquem seus dedos em lugar nenhum não...
Obrigada, o livro agradece a compreensão de todos os leitores! Risos!
Ah, e se estiver muito estressante imaginar algo tão romântico pop, abra uma Coca-Cola geladíssima e relaxe. Refresque os seus pensamentos, modernize-se!
--- Uhm, você deixará, eu pensar no cardápio que eu sempre quiser? Combinado, posso pensar, Caio?
--- Impossível dizer não á você, meu amor!
E correram ao mercadinho mais legal de todas as cidades. O mercadinho da Terra do Nunca onde tem o melhor pastel com massa de água e pinga, frito na hora e com delicioso recheio de carne ou queijo...
--- O que a Senhorita vai querer?
--- Uhm, um pastel de queijo, por favor. E um suco de cajuzinho sem açúcar. Aliás, eu quero é uma bem gelada Coca-Cola de garrafinha de vidro. Posso trocar não posso? (Sarcástica)
---Claro, é a Senhorita quem escolhe, sinta-se á vontade! _ O Garçom.
--- Você é um amor, muito gentil. Obrigada, beberei a Coca-Cola!
--- Com licença, Senhorita! Fique á vontade...
--- Obrigada!
O Garçom contornou a mesa, muito sorridente e meio chateado...
--- Que incoerência com o açúcar, não? Mas, você pode trocar o suco, eu não vou encher sua paciência para sempre.
--- Ah, Caio! Obrigada! (Irônica)
--- E o Senhor?
--- Vou querer também um pastel de queijo e um suco de cajuzinho, mas, o meu é com muito açúcar, por favor.
--- Engraçadinho, e depois reclama de mim.
--- Amor, amor, Chiara. Hoje eu liberei tudo. Nem sou médico por hoje!
--- Ah foi? E você precisa liberar as coisas é? (Irônica)
--- Yeah, yeah, yeah... Preciso liberar sim, como por exemplo, eu vou liberar a senhorita para ir para casa e dormir, antes que seus primos pensem que eu a seqüestrei.
--- Dormir? Você está bem, Caio?
--- Chiara! Claro que você vai dormir um pouco agora de manhã; sim Senhora!
--- Mas, meu Médico querido do coração...
--- Sem mais nem menos, mocinha! Você não está com sono?
--- Estou, mas, e depois você vem me ver? (Sarcástica)
Observem como a mente feminina é problemática. Há pouco a Chiara não sentia esses arrepios que estão subtendidos na vontade de rever o ‘Caio’. No entanto, ele é muito carinhoso com ela...
--- Claro e vou passar o resto do dia, dos dias, dos tempos com você, Chiarinha!
--- Será triste quando voltarmos para Sampa, pro Rio... (Irônica)
Ah, e ela ainda sofre antecipadamente por sentimento que há poucas horas atrás era como soltar bolhas de sabão, elas estourariam e Chiara continuaria a soprar e a achar todas as bolhas, bonitas! E quem um dia nunca foi meio Chiara e bolhas de sabão?
--- Um brinde?
--- Ao quê, Caio?
--- Chiara, brindemos á eu e a você. Longe ou perto, eu quero sempre te ter, te ver e estar com você, cuidar de você... Amor, eu quero colorir o seu mundo. Quero te levar para o altar, para Paraty uma cidadezinha como a Terra do Nunca, porém, lá tem mar...
--- Brindes e beijinhos também! Ah, será que vamos passear em barcos á vela? (Sarcástica)
--- Se você quiser Chiara, navegaremos agora num barquinho á vela no Rio Vermelho e ainda acenaremos com um lenço colorido para todas as pessoas que se assustarem com a nossa cena literária e cinematográfica de um lindo romance.
--- Não seu bobo, eu falo de navegar em Paraty! (Irônica)
Detalhe, com o Cineasta ela nunca iria para cidade de Paraty, Rio de Janeiro. Essa era a maior certeza que ela tinha em mente. Já com o Rockstar, ela poderia ir para qualquer lugar...
--- Chiara, eu vou te levar para navegar o mundo inteiro em meus braços, sentindo o frescor de águas doces ou salgadas. Tudo o que eu mais quero é sentir o vento leve bater em nossas faces como um carinho que não esqueceremos nunca mais...
--- Caio do meu coração, você é lindo, sabia? (Irônica)
--- Sabia!
--- Olha que convencido?
--- Você perguntou e eu respondi você, meu Amor!
--- Caio Heineker, prometa-me uma coisa super importante?
--- Prometo que vamos beber Heineken o resto de nossas vidas em nossas viagens malucas.
--- Não é isso! Caio eu estou falando sério com você, meu Amor! Você precisa me prometer uma coisa, você promete? (Sarcástica)
--- Senta aqui no meu colo um pouco senão eu não conseguirei pensar, é sério! Sente-se Chiara!
--- Amor, eu estou pesada comi um pastel agora! Mas, gosto tanto de um colo, o seu eu ainda nem conheço, mas, eu estou pesada?
--- Nunca vou achar o Amor da minha vida uma gorda! Se um dia você se sentir mal com o seu corpo, eu mesmo estarei ao seu lado no pós-operatório, vou lhe presentear com lindas tulipas, orquídeas e jasmins. Já sei que você não gosta de rosas vermelhas! E meu Amor, não faça essa carinha de desprezo com um hospital porque lá não é o fim do mundo. Relaxa, se algum dia você estiver em um, e tiver que passar a noite sombria como você mesma me diz, acredite que eu sempre vou estar ao seu lado protegendo o teu sono, porque eu te amo!
--- Você me ama mesmo que eu entre em crise de depressão profunda por suspeita de traição?
--- O que você está dizendo, Chiara?
--- Ah, foi só uma idéia que passou pela minha cabeça. Um pesadelo mental sobre uma traição sabe? (Irônica)
---- Não entendo você, Chiara!
--- Amor, nós sabemos como são as Enfermeiras, não todas, mas, uma grande porcentagem. Então eu imaginei que se você me traísse com uma dessas, eu surtaria de raiva, faria as minhas malas temporárias e mandaria faturas inesquecíveis de Nova York para você. E o que preciso saber é se ainda assim, você me pediria perdão, me buscaria na Miami Beach e se regeneraria a ser um marido melhor, me amar para sempre?
--- Claro que sim meu Amor, eu serei um Médico bem sucedido e ter uma Mulher como você é tudo que eu posso desejar futuramente na magia dos ponteiros do meu relógio. Ah, minha Chiara não pense besteiras...
--- Não são besteiras, Caio. São os meus medos e isso é diferente do que você considera besteiras!
Homens de verdade não deveriam falar com tanta doçura, candura, com tanto sentimento. Chiara não agüentaria isso por muito tempo, talvez o Cineasta Médico logo diagnosticasse uma crise de diabetes no diagnóstico corporal dela.
--- Chiara, era isso o que você queria saber? O que você tanto queria que eu lhe prometesse?
--- Não, claro que não!
--- Não? Então que pode ser pior do que tudo isso, meu Amor?
--- Você não sabe, Caio?
--- O que pode ser mais angustiante para você, minha Rainha?
--- Passar a noite em um hospital sozinha. Tenho medo. Promete que aconteça o que acontecer, se eu precisar passar nem que seja algumas horas internada você autoriza o meu quarto ser colorido e com um sofá-cama pras minhas amigas Poli e Carol?
--- Prometo! Mas, pensei que você quisesse que eu lhe prometesse algo importante, meu Amor!
--- Viu como você é, Caio?
--- Não precisa chorar, Chiara! Não entendo você. Não entendo o seu nervosismo, minha Princesa. Não chora, não! Sou um homem desesperado ao te ver chorar assim, deixe eu te abraçar outra vez, sente-se aqui em meu colo, sente-se! Quero que você sinta em meus braços e na temperatura do meu corpo como tudo o que eu lhe falo é a mais pura verdade, e eu te amo tanto...
Vocês perceberam como os Homens podem ser falsos?
Sério, isso tudo era teatro desse Cineasta apenas para que Chiara sentasse em seu colo magro e sentisse brotar por dentro de uma calça jeans, um P.I (Pênis Inimigo). Horrível, isso era quase um assédio sexual. E ainda há quem acredite em romances numa situação grotesca dessas em que o Cara queria apenas tentar gozar enquanto a garota estava sentada em seu podre colo.
Não vomite; ainda está em tempo de você correr para o banheiro. Aliás, maioria das mulheres já passou por situações semelhantes. Acreditaram que um olhar de candura era mesmo porque algum homem achou romântico, bonito tê-la com um sorriso, olhando dentro de seus olhos e sentada em seu colo.
Ah, relaxe se isso aconteceu com você! Seja feminista, leia um pouco sobre o Woodstock, sinta-se livre, silencie com os seus novos conceitos de vida e apenas viva. E sabe de uma coisa?
Yeah, é uma ótima idéia você dar a volta por cima tendo um P.A (Pênis Amigo). Disso, nenhuma amiga sua precisa saber, nem sua Mãe, muito menos o seu Pai e seu irmão mais velho. Você precisa ser mais esperta, alguns detalhes só existirão em sua vida se você aprender a arte do silêncio.
Com o P.A a sua auto-estima melhora infinitas vezes, a depressão é que se suicida, você não sente necessidade involuntária de correr atrás de um homem, suas ceroulas arrotas não te passam mais vergonha quando você estiver vestindo uma mini-saia branca, sua pele melhora, seu cabelo fica mais brilhoso, o gel do P.A te ajuda a rejuvenescer e tudo se torna mais feliz. Afinal, porque você terá um vibrador de mentira se você pode tê-lo de verdade?
Ah, e não pense que isso é um absurdo. Depois da Revolução Feminista, os homens passaram a tratar mulheres comuns como V.A (Vaginas Amigas), então, é o momento certo de você entrar no ritmo da música, seja rock, axé, pop, sertanejo, só por esse instante, isso não é importante...
E eu até penso que a Penélope Nova concordaria comigo se trocássemos idéia sobre isso.
Nenhum ventinho soprava novas idéias pra discussão entre Caio e Chiara. O Café Colonial estava fechado e no Mercadinho da Cidade de Goyaz, nem mesmo os pássaros faziam pouso perto do casal, nem borboletas. O clima era tenso.
---- Caio eu tenho pavor de hospitais, tenho medo, solidão e tristeza de pensar que posso me hospedar em algum, entende agora?
---- Amor, você já foi hospitalizada? Que trauma é esse?
---- Uma vez quando eu era criança, eu me afoguei no Mar Morto porque a minha Mãe e meu Pai se divertiam jogando Vôlei e a babá por dois minutos descuidou-se de mim para pegar o suco que meus ilustres pais haviam gritado, quero dizer pedido á ela.
--- Você quer contar mais sobre sua história, Linda?
--- Não sou linda, nunca fui e a verdade é que quando me tiraram da Unidade de Terapia Intensiva naquele hospital lá em Israel, eu queria chorar, apenas chorar.
--- Acalme-se, você quer uma água?
--- Não preciso de água não, eu bebo suco, obrigada! (Sarcástica)
--- Amor, lá nesse hospital alguém lhe fez mal?
--- Meu Pai.
---- Meu Deus! Chiara! Não chore assim, respire, se quiser me contar tudo bem se não quiser você não precisa...
---- Caio, eu estava sedada.
---- Normal, não? Você precisava descansar provavelmente.
--- Caio, eu acordei antes do efeito dos sedativos terminarem.
--- E o que aconteceu de tão grave?
--- Um pesadelo, meu Amor!
--- Chiara, conte-me logo porque estou preocupado, por favor!
--- Olhei para o lado, e vi o meu Pai beijando uma Enfermeira.
--- Agora eu posso compreender tudo, minha Menina Linda!
---- Caio, tudo isso foi horrível, muito horrível! Meu Pai disse que eu estava delirando quando eu contei para a minha Mãe. Na época a minha Mãe nem me deu razão, acho que ela já sabia que ele é um puto. Lembro-me que eu não tive pais de verdade. Tudo o que eu tive foram viagens lindas, caras, e exóticas pelo mundo. Tudo o que levo comigo dessa vida são medos que assombram os meus sonhos verdadeiros de ter a minha família, os meus filhos, o meu marido e um cachorrinho feliz, Isso, todos os dias pela manhã iluminando o meu dia como sorrisos; símbolos de que um grande amor nunca é em vão!
--- Prometo á você, o meu coração! Se um dia acontecer algo próximo á traição, eu vou olhar em seus olhos e me separar de você, mas, nunca vou lhe trair.
--- Amor, eu sempre acreditei que amores de verdade são para sempre. Caio você me confundiu.
--- Não Chiara, eu só quis dizer as mesmas coisas, mas, usei palavras diferentes minha querida! Eu quis dizer á você palavras de um grande amor, o meu por você.
--- Tudo bem, mas, você promete que seja qual for a recaída eu vu ter um quarto exclusivo e colorido?
--- Sempre, eu prometo sempre. Amo muito você minha garota manhosinha, linda, sorridente e que tem na nuca o perfume mais gostoso.
--- Qual é o perfume, Chiara?
---- Tarsila do Amaral de O Boticário! O perfume mais gostoso de todos os tempos!
--- Adoro e me enlouqueço com todos os gostos, cheiros e sorrisos quando eu encontro você.
--- Namastê! O meu Deus saúda o Deus que habita em seu coração.
--- Namastê, Chiara!
--- Vamos agora passear, eu te amo! (Irônica)
Brincaram de namorar lá no mercadinho encantado, onde jovens amanheciam sempre com um sorriso estampado. No Festival que nunca fora interpretado mal...
Afinal, como será daqui a alguns anos, toda essa natureza se não fosse o Cinema Ambiental?
A natureza perderia parte de suas flores, não nasceriam os seus frutos, os pássaros esqueceriam para sempre dos seus cantos e o céu já não teria nenhum encanto. A natureza sem o meio ambiente estaria doente, ela não seria mais o Rock’n Roll.
Algum tempo depois, pela tarde, os primos de Chiara que também tinham viajado para Vila Boa e sua melhor amiga Carol lhe acordaram aos berros.
--- Onde você estava?
--- Chiara, você enlouqueceu?
--- Como você desaparece assim?
--- Onde você estava, Chiara Garibaldi?
--- Vendo estrelas na beira-rio, ora, oras...
--- Sei...
--- Verdade!
--- Chiarita Garibaldi, prima minha, você estava vendo estrelinhas com um Roqueiro? _Leandro
--- Ah, não torrem o meu saco, vai...
--- Não, não tem saco torrado aqui não. _Marcelo
--- Ah! Parem de encher minha paciência. Que coisa chata! Não tenho expectativas sobre o que sinto por esse cara! E isso me deixa tão em paz que flutuo por todo o azul do céu. Vôo tão longe que o azul até se colore quando eu passo. E todo esse romance nada é para mim do que um P.A, porque o Cara é um Cineasta, não o Rockstar dos meus sonhos.
--- Tudo bem, quanta inspiração, prima. Mas apresente o Donzelo pra gente?
--- Não mesmo... _Chiara
--- Ah não Leandro, Donzelo é foda vai... _Marcelo
--- Ah não o quê Marcelo? Ele tem que ser um Donzelo ora, oras. Ou não estamos na Terra do Nunca?
--- Bom, eu espero que ele não seja é o Peter Pan. Leandro, até você entrou na alienação da Chiara em chamar a Cidade de Goyaz de Terra do Nunca?
--- Peter Pan, essa foi boa! Marcelinho relaxa! Terra do Nunca é bonitinho e as garotas se encantam com essas coisas ditas mágicas, entende?
--- Juro que sempre eu tento entender essas coisas de mulheres...
--- Carol que horas você chegou? _ Chiara
--- Amiga essa pergunta não é pra você, não Chiara?
--- Não, eu estou perguntando para você mesma, Flor. E meu novo amigo colorido não é o Peter Pan! Carol, paciência com tudo, por favor.
--- Chiara, você ás vezes é irritante, sabia?
--- Claro que eu sei! Aliás, do meu passado ficaram papéis coloridos com dobraduras, clipes antigos e histórias de amor em xilogravuras.
--- Boa, boa, boa. Prima, conta pra gente que horas você chegou? _ Leandro
--- Chiara porque você não conta o que você fumou? _Carol
--- Não fumei nada. Não me embriaguei com nada.
--- Como vocês vieram parar na mesma Pousada do que eu?
--- Ligamos para sua casa e o Jorge nos deu o número de telefone da sua Pousada, não é o máximo? _ Marcelo
--- Ah, claro é o máximo! _ Chiara (Sarcástica)
--- Chiara, se não fosse á casa da amiga da sua mãe, estar com uma reforma programada pra começar hoje á tarde, nós poderíamos ter continuado por lá. Aposto que nós estaríamos mais aconchegantes e tranqüilas, iríamos estar lá na Casa 21 da Rua 13.
--- Argh! Isso de Pousada nem importa tanto. Mas, se eu cheguei de manhã, foi de manhã ora bolas...
--- E tinham bolas nas horas, olha só Marcelo! Eu, não dou conta dessas meninas não viu...
--- Não! Que saco Leandro! _ Chiara
--- Ah, foi só brincadeirinha, calma, calma!
--- Cadê o resto do pessoal da Pousada?
--- Galera foi toda pra rua...
--- Pelo menos, eles ficarão em quartos separados, Chiara. _ Carol
--- Prima, você não quer nossa companhia? _Leandro
--- A companhia eu adoro, mas, encher o meu saco não. _ Chiara
--- Bebe uma Coca-Cola geladinha, abri agora, e relaxa prima. _Leandro
--- Ah, Coca, eu quero. Valeu! _ Chiara
--- Cadê os amigos gatos de vocês? _ Carol
--- Báh, eu disse foram pra rua... _ Marcelo
--- Ou pro rock dos vizinhos! _Chiara (Risadinhas)
--- Chiara, vai dormir! Ah, agora tudo pra você é rock! _Carol
--- Até dormiria se você não tivesse trago visitas ao nosso quarto, Carol.
--- Marcelo eu penso que foi um convite pra gente ir embora do quarto delas. _ Leandro
--- Ih, Lele, eu também acho. _ Marcelo
--- Não stressem, claro que eu não mandei vocês irem embora do quarto. Podem ficar aqui de boa, o quarto é grande, aconchegante e acomoda todo mundo. _ Chiara
--- O Leandro soltou as flatulências dele demais hoje de noite, por isso, a galera já saiu._Marcelo
--- Ih, lá vem o Marcelo com a brincadeira sem graça! _ Leandro
--- Brincadeira ou não, flatulências por aqui não vai... _ Carol
--- Mas conta pra gente Chiara, onde você conheceu o Los Hermanos?
--- Los Hermanos?
--- Ah a gente espiou pela janela quando ele veio te trazer aqui de manhã, ele pareceu com o Los Hermanos.
--- Chiara, seus primos são muito criativos.
--- Onde você conheceu o Los Hermanos?
--- Faz tempo.
--- Colega de escola da Chiara._Retrucou, Carol, mentindo para que os meninos não implicarem o saco da amiga por ela sair com um estranho.
--- Vocês já almoçaram?
--- Chiara, eu não almocei não, mas vocês já almoçaram?
--- Argh! Muito engraçado, Leandro. Não. Ninguém almoçou! E eu e a Carol estamos com fome.
--- Você ouviu essa, Marcelinho? Elas estão com fome. Eu disse, eu disse que eu não dava conta dessas primas suas...
--- Nem prima do Marcelinho eu sou.
--- Como que não é? É prima sim, pois você é a amiga meia irmã de consideração da Chiara.
--- Vocês não vão almoçar, não?_ Chiara
--- Ah, tem uma pizza que a gente pediu há uma hora.
--- Onde?
--- Ainda não chegou.
--- Ah, muito engraçado. Muito engraçado._Leandro
--- E dá pra nós duas também?
--- É a gente ia acordar vocês mesmo para ajudarem a comer a pizza, depois que a galera nos deixou sozinhos no quarto.
--- Ah, Chiara a gente pediu pra vocês também, lógico.
--- Pizza de quê?_Chiara
--- Chegou. Ligaram lá da recepção. _Carol
--- Nem sabia que eles entregavam pizza em Pousada aqui na Terra do Nunca._Chiara
--- Nem eu. _Carol
--- Ah, vamos comer Chiara? Estou com fome, muita fome._Marcelo
--- Uhm, pizza de queijo e frango e batatinha palha... Boa pedida, primo!_Chiara
--- Tem uma Coca-Cola de dois litros no frigobar que eu vi..._Leandro
--- Vou pegar... _Carol
Após o almoço, ligaram o ventilador do quarto, trouxeram mais um colchão pro quarto das meninas, uma barra de chocolate pra devorar, enquanto, Chiara terminava o banho e se arrumava para esperar Caio o Los Hermanos...
--- Carol, porque você está chorando? _ Leandro
--- Ah, um pouco triste apenas...
--- Come um chocolate que você melhora! _ Leandro
--- Não chora não Carol, o Leandro tem razão se você comer um chocolate, você melhora.
--- Não, obrigada. Melhor não, além de tudo eu estou gorda.
--- Gorda? Não, gordo sou eu! _ Leandro
--- Ah, mas conte pra gente qual o motivo desse choro todo?
--- Vocês vão guardar segredo?
--- Vamos, pode contar pra gente. No máximo o Leandro vai rir de você.
--- Ah, meus pais são ótimos para mim, conversam tanto comigo, mas, eu não agüento mais essa vida sem dinheiro. Sabia meninos, eu vejo as minhas amigas, primas, pessoas que tem tudo, e eu apenas escutando que eu sou pobre? E o que me revolta não é o fato de ser pobre, estar pobre, o fato pobreza. O que me revolta é que eu nasci muito rica, mas, minha mãe se drogou, traiu meu pai, separaram e depois eles voltaram, e meu pai fugiu para não pagar uma indenização da empresa dele nessa mesma época, e quando voltou para o Brasil ele não teve como fugir disso. E ele coloca em mim uma culpa que não é minha. Meu pai diz que voltou porque minha mãe se drogou com alguns fumos, e não conseguia mais cuidar de mim. E eu tinha apenas seis anos. Lembro-me de algumas coisas antes da separação, no meu primeiro dia de aula no pré-alfabetização. Se não fosse a Tia Liliana, a mãe de Chiara, eu não sei como teria sido a minha vida. Tia Lily foi como uma segunda Mãe para mim, e a Chiara como irmã e ainda é assim. Tudo que a Chiara compra ou faz por ela, também faz por mim. Meu pai era muito bonito e a professorinha olhava tanto para ele. Nesse dia, não me sai da cabeça o beijo no rosto que meu pai deu na minha professorinha, e eu que fui a ultima a ir embora porque fiquei um tempo enorme esperando pelo meu pai, apenas, reparei que o papai ou mamãe de outras colegas, nenhum deu beijo no rosto dessa professorinha. Então quando saímos da escolinha, fomos ao shopping. Mamãe ligava pro telefone do meu pai e ele não atendia, eu sei que era a Mamãe, porque ele falou. Ou isso era uma desculpa para não atender porque já íamos logo para casa, era o que ele dizia e claro, considerando que eu por ser criança não entendia sobre noções de tempo, nem de traição. Então, meu pai me colocou nos ombros e brincou comigo. Acredito que ele sempre me amou. Bom, então nós fomos a tantas lojas e ele comprou tantas coisas que eu nem me lembro mais. Aliás, eu nunca esqueci o pijama vermelho que ele disse ser presente para a mamãe, mas, ela nunca teve um pijama vermelho. Após as compras, papai ainda me carregava nos ombros e com uma mão segurava muitas sacolas. Fomos comer sanduíche e tomar sorvete. E fui cada vez mais sentindo sono. Acredito que dormi no carro e meu pai me levou até o quarto, me deu banho, colocou meu pijama e me deixou dormir. E de repente eu ainda me lembro como se você visse um pesadelo, e eu acordei, e desci da minha caminha e fui até a sala ver os gritos da minha mãe. Ela tinha um cigarro aceso numa das mãos e com a outra ela jogava copos, vasos, e garrafas no chão. Meus pais não perceberam que eu fiquei ali no cantinho da porta por um tempo, assistindo o meu pior pesadelo. Por um minutinho meu pai olhou para trás e me viu, ele logo correu e me pegou nos braços, ele pegou a chave do carro e saiu. Ele deixou a minha mãe gritando e chorando sozinha na casa. Lembro que ele me levou para a casa de um amigo dele, na verdade era o sócio dele, e ele tinha um filho, um menininho lindo muito gordo e com olhos azuis enormes, e esse garotinho sentou-se ao meu lado, segurou a minha mão e ficou assistindo desenho animado comigo. Depois a mãe desse garotinho, ela já se apresentava mais velha do que a minha mãe, e era bem gordinha, mas, muito amiga, carinhosa e agradável. Ela me colocou no colo e cantou pra mim a música do filme do Rei Leão. O Garotinho segurou a minha mão tão forte, e nesse dia meu coraçãozinho pulsou bem forte. Talvez a única coisa concreta que eu tivesse na minha vida naquele momento fossem os arrepios que faziam pulsar o meu coração de criança. Ela dizia para mim que tudo era um sonho ruim, e de fato ela tinha uma razão futura sobre tudo. Falo assim, porque alguns anos depois, após essas confusões com a minha família, uns sete anos depois, meus pais voltaram a morar juntos. E para mostrarem para todo mundo que estavam bem, embora falidos. Mas vivendo de muitas aparências, pois, ainda existia um dinheiro a juros no banco, e eles me deram uma festa à Fantasia com tema infantil que foi a festa mais linda de aniversário. O tema da festa era o fundo do mar, e eu estava fantasiada de Ariel, a pequena sereia. Ainda me lembro como se fosse hoje, do menino gordinho, o mesmo do dia do meu pior pesadelo, que segurou a minha mão, ele chegou á festa fantasiado de tubarão e me deu um beijo no rosto. E eu sentia um carinho especial por ele. Então a festinha estava ótima se não fosse um imprevisto na hora dos meus parabéns quando meu papai me suspendeu para soprar as velas, e eu senti uma coisa molhada entre as minhas perninhas. E tudo bem que o tema da minha festa de aniversário era o fundo do mar, no entanto, não era para eu estar toda molhada, sentindo dores horrorosas na barriga e vontade de chorar. Nesse aniversário eu apenas pedi para as velinhas mágicas do meu bolo de estrela-do-mar, eu pedi para durante muitos e muitos anos, eu não me sentisse molhada de nenhum jeito entre as pernas, para que nenhuma daquelas dores me surpreendesse e para que por tanta agonia eu não tivesse mais que chorar. Foi assim que de repente, eu corri para o banheiro logo após, os parabéns, sem cortar nenhum pedaço do bolo. A minha mãe sempre muito ocupada com os preparativos, nem percebeu minha aflição e continuou organizando pratinhos e cortando pedaços de bolo, enquanto, eu estava no banheiro chorando, aflita e sem saber o que fazer, pois, meu xixi tinha mudado de cor. Foi quando a mãe gordinha, mais amadurecida do que a minha e amiga, a mãe do garotinho de olhos azuis, ela perguntou se eu estava precisando de ajuda. Eu soluçando aos prantos respondi que sim, então ela abriu a portinha e me perguntou o que estava acontecendo, e eu disse que meu xixi tinha mudado de cor. Ela sorriu e disse para eu não chorar e que embora eu ainda fosse muito jovem, ainda que não mais tão criança de fato, isso era muito normal, o meu xixi mudar de cor. De repente, no meu aniversário de treze anos, eu tive a minha primeira menstruação. Eu quem nem conhecia muito sobre o corpo humano ainda. Ela conversou com a minha mãe, e por ter coisas mais importantes a fazer, a minha mãe deixou que ela conversasse comigo e me explicasse tudo sobre o meu primeiro xixi vermelho. Depois de trocar de roupa, colocar uma coisa ridícula, horrível, que muito me incomodava, colada a minha calcinha de babados lilás, ela sentou-se comigo no jardim e conversamos muito, sobre a minha puberdade. Nesse dia eu descobri que eu já não era uma criança, eu tinha dado o meu primeiro passo ainda que cedo, para a minha adolescência. E alguns anos depois, numa viagem que meus pais fizeram comigo e com a família desse amigo dele para praia, eu me afastei durante uma tarde pouco ensolarada e carregada com algumas nuvens que ameaçavam chuva, eu fui caminhando beira-mar... E como os meus pais pouco se lembravam onde eu estava para eles eu estava me divertindo e de fato, talvez eu estivesse me divertindo comigo mesma ao me lembrar do meu aniversário no fundo do mar, do menino de olhos azuis que hoje estava tão crescido quanto eu, mas, que por causa de um xixi vermelho eu não pude brincar com ele no resto da minha festinha, pois, passei a maior parte do tempo conversando com a mãe dele sobre tantos riscos vermelhos derivados do meu xixi, riscos que eu iria correr ao longo dos próximos anos... Foi á forma mais sutil que ela encontrou para me explicar de uma vez só, como era a adolescência, e até hoje eu penso que ela esqueceu que o filho dela tinha treze anos e eu também. Ou seja, a maior parte do que ela me falava ficou flutuando como nuvens na minha imaginação durante muitos e muitos meses. O fato é que meus pais não se lembraram de mim nesse dia de praia, eles até saíram para um jantar temático no hotel. Meu pai já não era o mesmo, ele tinha aprendido a fumar com a minha mãe. Um dia eu tive um pai que me carregou no colo, ainda que para comprar um pijama vermelho que minha mãe nunca usou ou ao menos jogou no lixo. Um dia eu tive um pai que se importou em me tirar da briga dele com a minha mãe. Um dia eu tive um pai, ainda que por apenas um único dia, que se importou em comer sanduíche e tomar sorvete comigo após a escola. E nesse dia eu descobri que nós, filhos ou filhas, nós somos mesmos da Mãe! E o meu melhor sonho era o meu pior pesadelo. Sendo assim, ninguém me culparia se acaso eu me perdesse pela praia e foi isso que eu teria feito, se ele, o menino de olhos azuis não tivesse me achado. João Paulo era o nome dele. O apelido dele era Paul, e apelido dado pela irmã dele antes de falecer num acidente, mergulhando com um namorado aos dezesseis anos, enquanto Paul tinha apenas oito anos. Sim, na mesma época que meu melhor sonho se tornou meu pior pesadelo. Sinceramente? Ele tinha isso muito em comum comigo. E talvez, isso explicasse a enorme paciência e carinho que a mãe dele sempre tivera comigo. E óbvio que além do sentimento desleixado da minha mãe, sobre a responsabilidade de cuidar de mim, o restinho de bom senso que ela tinha, se confundia com um sentimento de pena. Pena por aquela senhora tão amável, a mulher do sócio do meu pai, ter perdido uma linda filha tão jovem, num acidente tão impensado, um mergulho? Foi assim que a minha mãe me trocou facilmente todas às vezes que essa senhora estava por perto, por um mergulho em maço de cigarros de todas as variedades, cores, sabores e aromas. Por isso, o que havia de errado em eu estar perdida na praia? Sentei num alto coral, e fiquei observando Golfinhos no mar, brincarem, namorarem... Paul chegou com um sorriso tão lindo, tão cheio de vida e alto astral apesar de seu passado tão tenebroso quanto o meu, e eu apenas me perdi naqueles olhos azuis, tão azuis que ficavam esverdeados, amendoados quanto às águas do mar e a dança de amor dos golfinhos que me alegravam... Ele se sentou ao meu lado, e outra vez segurou a minha mão. Ele perguntou se eu confiava nele e eu disse que sim, então, ele me pediu para fechar os olhos, eu fechei e ele me beijou. O relógio Rolex que ele ostentava no pulso caiu do alto dos corais no mar e ele apenas riu. Paul nunca se preocupou com dinheiro, porque apesar da empresa de nossos pais ter ido à falência, o pai dele era um grande fazendeiro do café. E embora eu estivesse beijando o filho do rei do café no sudeste deste meu país, tanto café não fora o suficiente para me fazer acordar. Acordar de um sonho ruim. Descemos dos corais e deitamos sobre a minha canga, nas areias brancas e frias naquela praia. E eu não sei por que eu sentia no fundo do peito que o Paul era um cara que daria certo com a minha melhor amiga, Chiara. E eu era apenas uma menina que sonhava com um mundo bom, uma família de verdade, enfim, saber o que era ter ou ser pai e mãe, e ter uma família de verdade. E Chiara também, e penso que por isso ela é a minha amiga irmã! No entanto, fantasias me fizeram ser apenas mais uma alegre depressiva. Naquele dia passamos um tempo junto conversando deitados na areia, além de abraços e brincadeiras de pular em cima do outro. Detalhe que eu esqueci, de comentar, Paul estava com uma garrafa de tequila ouro e eu nunca tinha bebido tequila antes. E antes que meus pais se preocupassem comigo, eu estava bêbada demais para fazer do amor uma bolha de plástico que flutuasse talvez em qualquer lugar. Voltamos então ao hotel, peguei umas roupas no meu quarto, em que eu estava sozinha. Porque depois que meu pai aprendeu a fumar, um quarto triplo nas viagens era um grande incomodo, não pela minha rinite alérgica, mas, porque meus pais tentavam fazer com que eu acreditasse que eles não eram dependentes drogados, eu gostaria de dizer, fumantes. Bom, os pais de Paul eram muito preocupados com ele, e comigo também, quando eu estava por perto, não pela minha silhueta bem definida, meus seios arredondados, meus longos cabelos e meu sorriso estudantil, mas, porque eles sabiam que há tempos eu não tinha um pai, muito menos uma mãe... Assim, eles nos fizeram muitas recomendações, mas fizeram por fazer, pois, ainda que muito legais, e bonzinhos e amáveis, eles tinham no peito um sentimento de plena segurança em que o dinheiro deles poderia corrigir qualquer erro, ou quase qualquer erro. Pois, nem com todo o dinheiro dos pés de café, eles há alguns anos atrás comprariam oxigênio por um minuto. Á tempo de mandar via sedex submarino para a filha deles e o namorado dela no fundo do mar. E o mais intrigante é que ao remexer as coisas da filha deles, ela, a mulher bondosa e amável, tinha encontrado um exame de ultra-som. A menina estava grávida de um mês e meio de gêmeos. Isso ainda é um mistério, pois, nunca ninguém soube explicar como o acidente aconteceu no fundo do mar. No mergulho romântico de dois namorados para verem peixinhos coloridos, para verem todas as cores do amor. Ninguém sabe explicar se o acidente foi mesmo um acidente ou um experimento para abortar idéias malucas de arrependimento. Sem querer, a mãe, a amável mulher, leu um cartãozinho de feliz aniversário de namoro em que o namorado de sua filha relatava como eles estavam felizes com a possibilidade dela estar grávida e com o casamento... Mas, do mesmo envelope caiu uma carta, meio que rabiscada e com aspecto de carta não enviada, uma carta ainda não terminada, em que em algumas poucas frases, ela a filha da amável mulher, ela, a jovem menina mimada, estava grávida mesmo. Mas, muito assustada com a idéia de casarem tão cedo e terem filhos, e que apesar de toda a mesada gorda que ela tinha, ela não se sentia mulher o suficiente para deixar de aproveitar a vida naquele momento e se tornar a esposa, dele e a mãe de duas crianças indefesas. Tão indefesas, tanto quanto ela. Antes de se perder com idéias malucas e compartilhadas sobre o casamento. A jovem menina, ainda assustada relatava como crianças pequenas davam trabalho e precisavam de muitos cuidados, pois, ela se lembrava muito bem de quando seu irmãozinho nasceu. Então na carta ela tinha escrito uma proposta radical, proposta essa que se acaso ele, o namorado dela, não aceitasse, não teria problemas, ela faria sozinha. Ela escreveu sobre o aborto que ela queria fazer, ela quis abortar seus dois bebês. E longe de hipocrisias, qualquer adolescente por mais que quisesse ter casado e ter filhos, já que tanto dinheiro era suficiente, qualquer menina no lugar dela ao se deparar com a realidade de uma gravidez, por mais fé que a pessoa tivesse, por mais amor que sentisse por si mesma, nada disso deixaria de ser confuso. E é de se duvidar que em nenhum mísero segundo uma menina jovem como ela, que sempre saía e aproveitava a vida, viajava quando queria com amigos e amigas, e era a primeira a organizar festas e tinha uma vida social sempre cheia de reuniões, festas e eventos, não quisesse essa página pular. Mas, a vida nunca permite rasuras e foi assim ao imaginar que o aborto pudesse solucionar um erro grande. O erro de se apaixonar loucamente ainda que muito cedo pelo primeiro namorado e perder a vida ao aceitar engravidar e casar para pularem etapas e se tornarem logo adultos. O que ninguém poderia saber é se ela contou ao namorado sobre o súbito desejo de abortar, se ele concordaria em desistir do sonho de viajar no mundo de milhares de notas de dinheiro e com um bebê a tira colo, aliás, dois bebês geneticamente bonitinhos. Ou, se o acidente no fundo do mar, foi só um acidente, desses que podem acontecer em qualquer lugar do mundo, e com qualquer pessoa que esteja desbravando as maravilhas do fundo do mar... Então, depois das recomendações eu e Paul saímos. Fomos á uma linda Ilha onde tinha um Pub que na verdade era um aquário gigante. A banda de rock que tocava uma música mais ou menos assim: “Rabisca o guardanapo com a bic azul e escreve um bilhetinho assim; toca Raul? Eu não toco Raul vocês me desculpem, eu acredito quando vocês dizem que ele é legal”... Pedra Letícia. E o lugar, a música e a banda de rock eram muito diferentes e divertidos. Nesse dia ao sairmos de lá, eu conheci uma das dores mais sublimes que uma menina-mulher poderia sentir, eu senti o que era encontrar o meu primeiro amor. Amor este que deveria ser o último também, se acaso eu acreditasse em Contos de Fadas, mas, como a minha vida sempre me colocava no caminho dos Contos de Bruxas, eu insisti. Nesse dia Paul me deu o apelido de Bruxinha porque eu consegui misturar três perfumes dele e fazer um novo perfume muito mais cheiroso para aromatizar o nosso ambiente, para espalhar boas vibrações para nossa primeira noite de estrelas. E aos pouquinhos á noite foi se transformando numa chuva de prata, nós abrimos algumas garrafas de vinho tinto e o Paul colocou um anel dentro de um botão de rosas que ele deixou ao lado do meu roupão... Foi numa linda noite de verão que ao sair da banheira de hidromassagem, eu abri o botão de rosas, li o pedido de namoro em uma das pétalas. E eu mesma coloquei o meu anel no dedo, pois, Paul cantava os acordes de uma música da banda de rock preferida, enquanto, ele terminava de fazer bolhas de sabão com sua arminha de brinquedo genética. Caminhei tão brilhante quanto à lua nua, até a cama e me deitei debaixo do edredom. Paul logo saiu da banheira, caminhou escorrendo água pelo banheiro ao quarto, e pegou sua guitarra, sentou-se ao meu lado na cama molhando edredom e lençóis, ele desligou o ar condicionado e começou a solar alguns acordes para mim... Acordes de uma canção de uma banda que nós gostávamos muito, um rock que dizia mais ao menos assim; “Há muito tempo eu fiquei esperando pra isso acontecer. De vez em quando eu ficava pensando no que eu ia fazer. Então eu estava ali parado, nem vi acontecer, passou na minha frente, deixa fudê. “ Cachorro Grande. E foi no outro dia de manhã, após, a nossa noite estrelada que Paul me contou essa história de sua irmã mais velha, irmã tão jovem e bonita e que mal se lembra. No momento eu fiquei confusa, mas, seria muito egoísmo meu se eu entendesse essa história não como um desabafo, e sim como uma ironia. Naquela manhã brincamos iguais a Romeo e Julieta nos lençóis com as luzes do sol penetrando pelas frestas da janela. Descemos juntos para o café da manhã no hotel e a única coisa que nossos pais disseram foi bom dia com um grande sorriso de ambos os pais e mães. Paul colocou uma margarida no meu cabelo após nossa refeição matinal e fomos tomar sol... E o meu namoro com Paul durou dois anos. Até que ele viajou para estudar música em outra universidade, longe, muito longe de São Paulo. E eu optei por fazer um intercambio para o Japão, este foi um presente dele por ter que se separar de mim, ele acreditou que eu não me sentiria tão mal se no fim do namoro eu viajasse e me divertisse em outra cultura, e como no Japão as meninas preferem ir ao shopping fazerem compras a praticarem o sexo, talvez esse método fosse mais tranqüilo para amenizar a saudade que eu sentiria de Paul. Mesmo que no Japão eu descobrisse que sexo era algo silencioso e muito comum entre jovens; e eu descobri! Então, esse foi o grande motivo de Paul me presentear, e pelo ego sexual dele, é claro! E lá no Japão eu passei um ano comprando todas as coisas lindas que eu encontrava, estudei mandarim, aprendi um pouco sobre cultura japonesa e fiz um curso de culinária. Todos os meses ele me mandava dinheiro além de pagar tudo o que eu gastava com o cartão de crédito que ele também tinha me dado. Não poderia existir um ex-namorado melhor. Era mais do que um presente, era um mimo de um grande amor, namorado e melhor amigo. Ah, a única parte chata da viagem foi quando precisei pedir á Chiara que viajasse escondido para Holanda, para me acompanhar numa interrupção. Uma cirurgia muito utilizada para impedir que os espermatozóides prossigam na sua corrida pela vida... O que é mais conhecido como aborto aqui no Brasil, o que não é proibido lá na Holanda, além de ser um problema social. O bebê, eu tinha certeza que seria do Paul devido aos meses de gestação, dois. Eu não fiz pacto com ninguém, eu apenas tinha contas para acertar com Deus um dia. Apesar disso sempre pensei que livre é a mulher para saber se os seios devem crescer espontaneamente para serem como duas caixinhas de leite. E isso tudo não é nenhum tipo de apologia ao aborto. Isso tudo são fatos. Fiz e não me arrependi. Tinha apenas cinco semanas. O pai, aliás, o Paul? Ele nunca soube, nem vai saber... Na verdade eu senti medo dele se aborrecer comigo. Chiara? É totalmente contra o aborto, embora, eu duvido que ela não aborte. Mas, como eu estava sozinha, internada porque eu tive complicações, pois, eu tinha injetado uma droga, um chá pelo umbigo para tentar abortar naturalmente, ela como ela é a minha única amiga melhor financeiramente, ela me ajudou. Bom, eu também poderia ter ligado para Poli, mas, ela morava com os pais nos EUA ainda, e talvez ela não pudesse viajar sozinha para a Holanda, não pelo dinheiro, mas, pelos pais dela. E claro, até hoje Chiara me lembra ás vezes e tenta me fazer sentir culpada pela morte do meu “bebê”. Ás vezes eu desejo que um dia Chiara aborte, pra quem sabe assim ela pare de encher o meu saco. E se meus sonhos há tempos não fossem pesadelos, eu diria talvez que é assustador sonhar com seu bebê abortado, chorando e te chamando de ‘mamãe’. Mas, num ponto de vista meu que é muito punk e sujo, eu diria que foi tudo um simples rock’nroll, ou a pior maneira de se explicar o rock na rua própria vida. Ou pior do que se perder no sul do Texas! Não, não vou filosofar o rock, muito menos o Texas, odeio coisas brutas! Ah, e acredite não fui á única no mundo. E hoje eu sou uma pessoa melhor, eu não me arrependo, eu apenas não gosto de lembrar e também não faria nada disso outra vez, porque, seja como for todos nós temos o direito de viver, ou eu mesma nem estaria aqui desabafando... Não importa como são os nossos pais, como será a nossa vida, o que importa é que o mais lindo rock é aquele que cede espaço a uma nova vida, seja essa vida como for... E assim, como castigo em solos de guitarra, eu me afastei de Paul. Hoje ele toca numa banda americana e se cansou de me ligar. A verdade é que Paul nunca entendeu o que ele fez de errado para que eu ao menos lhe entregasse uma lembrança da viajem que ele me deu. E hoje, três anos depois, eu estou angustiada por ter reencontrado o Paul e ele ter feito de conta que nada aconteceu... Mas, se você for pensar, realmente nada aconteceu. Nem um rompimento aconteceu após essa viajem. Paul tem todo o direito do mundo de se sentir magoado comigo, pois, eu fiz de conta que se afastar dele seria o suficiente para me manter distante do passado e das explicações. É, e embora eu tenha tido uma boa intenção ao errar, eu não queria estragar a carreira dele. Errei. Como sempre dizia a Chiara, eu triunfei nos meus erros. Detalhe, eu nunca tive uma mãe de verdade para me orientar e apesar disso nada justificar, eu sinto muito pelo que eu errei. E talvez, eu por esse motivo choro pelo Paul. Já os meus soluços, eu não sei dizer, eu não gosto do Paul. Eu deveria ter esquecido já, mas, ainda tenho uma verdade para contar a ele, mesmo, que ele nunca possa me perdoar. Verdade maior é que muito confusa eu fiquei com tanta determinação em pagar pelo o que eu mais queria no mundo, senti até medo e receio, me confundi, mas tudo isso não justifica abortar. Hoje, Paul é um grande Rockstar. E o meu ontem; eu poderia ter sido o meu hoje, e eu poderia ser a mais bela musa de uma banda de rock’nroll. Mas infeliz eu seria, pois, não sei por que a Chiara seria melhor do que eu para tal coisa e coisa e tal...
--- Ah, Carol, mas tudo isso passou, e o importante é que todos nós erramos muito. Eu não te julgo por nada não, foi uma opção sua. Bom, eu só acho que apesar de ser tão errado, agora não vai trazer o bebê de volta, você ficar por aí se martirizando e achando que o mundo desabou... E quando você reencontrar o Paul, você vá até ele e tente conversar, afinal, foi você quem se afastou. Ele ainda deve gostar de você para ter ficado tão sem reação como você diz. Isso não é nada além de um orgulho retraído. E se de tudo não der nada certo, pelo menos você poderá por sua cabeça no travesseiro e dormir sossegada por ter tentado. Já a Chiara ser a pessoa certa para o Paul, apenas o seu coração Carol pode responder isso, pois, eu não vejo razão. Afinal esse Paul é o Cara da faculdade de vocês que tanto faz Chiara sentir frissons?
--- Leandro você tem toda razão. Obrigada. Mas eu não gosto mais dele! E o Paul não é o Rockstar de Chiara, ele apenas o lembra muito de perfil. Ela se confundiu se acaso pensou ter visto o Cara que a carregou no colo esses dias quando ela desmaiou na faculdade, mas, essa é outra história e deixa isso pra lá...
--- Ah, histórias de Chiara! Ela é a minha prima mais louca! Carol, que isso minha linda, de nada! Precisando estamos aqui. Ah, e o Marcelo dormiu com essa história toda. Mas pode ficar sossegada que ele nem vai se lembrar de nada ao acordar.
--- Tudo bem. Obrigada e é segredo nosso pode ser?
--- Não precisava nem pedir! Segredo nosso e esfria essa cabeça sua, porque, todos nós temos anjos e demônios dentro do nosso coração. Não há algum ser humano que seja perfeito, todos nós cometemos muitas falhas e o que devemos fazer é aprender com os erros. Aliás, você não quer tomar uma cervejinha agora que alegre de novo?
--- Não, agora não. Mas, depois você pode me cobrar á cervejinha.
--- Ah, você está perdendo Carol. Cervejinha está geladinha...
--- Depois a gente toma uma então...
--- Vou cobrar mesmo de você duas cervejinhas aí do frigobar do seu quarto, já que pegou as do nosso. (Risos)
--- Tudo bem, Leandro.
--- Ah! Está geladinha...
--- Carol? _ Gritou Chiara lá do banheiro...
---Ah, vai lá ver o que acontece com a prima no banheiro, e relaxa Carol, é segredo nosso essa sua história e a cervejinha...
--- Obrigada!
--- Carol, socorro, me ajuda...
--- O que foi Chiara?
--- Uma barata Carol, uma barata enorme e com asas. Ela é mais feia do que o monstro do lago.
--- Chiara eu não acredito que você está gritando medo de uma barata.
--- Ah estou! Eu odeio essas baratas! Eu odeio essas baratas!
Carol com toda a sua paciência matou a barata, ajudou Chiara a escolher uma roupa para esperar o Los Hermanos, fez escovinha no cabelo da amiga, tomaram sorvete e ela foi dormir um pouco para descansar...
O Los Hermanos chegou devagar, entrou na ponta dos pés para não fazer barulho e roubou um beijo de Chiara.
Chiara e Los Hermanos passaram horas e horas conversando sobre amor, sexo, drogas e rock’n roll na varanda em frente ao quarto da Pousada em que Chiara se hospedou.
Mesa de varanda com forro xadrez. Flores no vaso. Pássaros cantando lá fora. E a Chiara de mãos dadas com o Los Hermanos na rua de paralelepípedos. Lá na Cidade de Pedras; e para quem preferir; a Terra do Nunca...
--- Chiara, eu não consegui parar de pensar em você!
--- Sério? Não, não... Você está brincando comigo! Ou, é sério isso de você não parar de pensar em mim?
--- Sim. Por isso que eu quero que você feche os olhos aqui em frente à ponte de Cora Coralina e só abra quando eu disser.
--- Uma surpresa? Ah, que curiosidade. Adoro surpresas!
--- Pode abrir meu Amor!
--- Mas, Caio o que é essa caixinha?
--- Abra...
--- Uma miniatura do Oscar?
--- Gostou?
--- Adorei. Ele é lindo! Que perfeito, eu...
--- Sim, meu Amor você ganhou o Oscar.
--- Caio você é muito divertido. Não sei se eu vou...
--- Não, você não precisará me esquecer. Pois, sabe uma vez li algo muito interessante que um dos Beatles disse; algo sobre deixar voar quem você ama porque se essa pessoa voltar é porque esse amor era verdadeiro.
--- Ah! Caio! Você é meu Cineasta Maluco!
--- Sim, e eu disse isso á você e você duvidou de mim.
--- Meu Los Hermanos, meu Cineasta Maluco. Mas, vai me dizer então qual o nome do nosso filme?
--- Uhm, o nosso filme pode se chamar Bodega Fantástica.
--- Não sei meu Amor, eu não sei...
--- Porque não? Pensei que você gostasse muito daquele Café Colonial onde tudo acontece, e que é quase uma fantástica bodega, mas, ainda assim não sei por que você pensa em qualquer outro nome. Ai de mim que pensei ser lá o seu lugar preferido. _Caio
--- Amo. Sou alucinada por aquele lugar, mas, não pro nome do nosso filme, expor um nome desses seria legendar tanto frenesi, sexo, pílulas, chocolates, amor, alegrias, lagrimas, histórias e devaneios que tantos se invejariam ao ver... Penso que a Bodega Fantástica é bem particular... (Irônica)
--- Qual nome você quer então?
--- Algum nome que me traga paz...
--- Sexo, drogas e rockn’roll; não lhe traz paz?
--- Sexo? Drogas? Rock, tudo bem, o rock e as estrelas sempre me trouxeram mesmo, a paz!
--- Qual o problema, Chiara? Nem parece que você gosta de mim, se sente livre ao meu lado.
--- Nenhum! Pois, é você quem vê um problema, não eu! E não exagere, nos conhecemos ontem.
--- Chiara, você não é como as outras meninas.
--- Como assim? Aliás, você acha que o problema sou eu? Tudo bem, mas saiba você que todos nós somos como estrelas que desaparecem no céu quando precisamos ouvir os tambores do rock silenciando nossa razão e adormecendo nosso coração que aos poucos param de chorar. Mas, posso traduzir para a linguagem cinematográfica se eu lhe disser que as minhas cores são mais intensas do que as de Amelie Poulain? Pense como quiser, e talvez, eu seja mesmo um problema porque eu gosto mais de ouvir o Ringo Star tocar do que desenhar os meus dias com as cores de Amelie...
--- Pelo contrário meu Amor. Mas, é que eu fico meio sem jeito de em pouco tempo que nós nos conhecemos já te forçar a alguma coisa. Sendo que seria a sua primeira vez e eu tenho medo de te frustrar. Chiara, com você eu quero namorar, noivar e casar, pode parecer esquisito em pouco tempo eu te querer tanto; eu te amar tanto.
--- Frustrar? Amar? Namorar? Noivar? Casar?
--- Chiara, só uma boneca como você faria um barbudo como eu pedir Barbie de Natal!
--- Bobeira é não viver a realidade e isso já dizia a Cássia Eller. Caio, não há problema nenhum comigo. Você não vai me frustrar e o que pode dar errado?
--- Não, não há nada errado. Só que eu não quero te machucar, pois vou ter que voltar para o Rio de Janeiro depois do festival. E eu sei como isso tudo é importante para uma menina, uma mulher...
--- Ah! Hoje eu sei como eu gosto de rocknroll, e...
--- O que foi, Chiara?
--- Apenas não se precipite comigo, nos conhecemos ontem. Acredite, está tudo bem comigo.
--- Não, eu não me precipitei ao te dizer tudo que sinto por você meu grande e lindo amor. Chiara, você já viu um homem apaixonada á sua frente se declarando?
--- Não sei, talvez...
--- Pois, eu sou um homem apaixonado á sua frente e se declarando para você. Eu te amo!
Um assobio da ventania e um ventinho frio que passou por baixo da saia de Chiara. Ao segurá-la para não levantar mais, de relance sem querer ela olhou para baixo, e não pôde evitar perceber o P. A de Caio, de pé. Sem graça, ela disfarçou, olhou dentro dos olhos dele e sentiu vontade de rir de toda a cena açucara sobre amor; e quê amor viu...
--- Caio, eu sei disso tudo o que você está falando. E eu voltarei para São Paulo, terei aulas de Cinema na faculdade e nem por isso vou morrer na nostalgia de viver um sonho com você, hoje! Então, qual o nome do nosso filme?
Chiara tinha dado á ele a chance de terem uma efervescente noite de amor, sexo, frenesi, frissons, amizade, rock and roll e o Cineasta, perdia tempo roteirizando tudo...
--- Sexo, drogas e rock... Mas, eu não entendi o porquê das drogas se eu não fumei maconha com você e nem usei nenhuma outra droga? E também, meu amor, eu ainda sinto receios pelo sexo, pois, pense você que não, mas, para um homem é muito importante a primeira vez de sua garota quando está sentindo á flor da pele o mesmo frenesi...
Vontade de dar um chute no saco desse Cineasta frouxo. Chiara, nesse minutinho o aproveitou como nenhuma outra mulher poderia ter feito, ela, se decidiu que essa porcaria de sua primeira vez seria com o mais gato de todos os Caras, aliás, de todos os Rockstars. Detalhe, ela não contaria á ele que era virgem. Não, ela não queria nenhum ritual do ‘dia de arrancar o cabaço’. Pois, se dizem que dor ela sentiria pelo menos nas outras cinco ‘trepadas’, pra que fazer todo um ‘circo anestésico de consciência’ se nas outras cinco nenhum Homem se lembraria que essa ‘porra’ em Chiara ainda dói?
Punk, esse foi o estilo mais clássico do rock á tocar como trilha sonora na vida da Senhorita Garibaldi. E ao passar do tempo, a experiência lhe apresentaria toda a história do rock and roll.
--- Ah, e você tem certeza que não usou nenhuma droga comigo? _ Chiara
--- Toda a certeza. E que drogas eu teria usado com você, então?
--- A Droga do Amor. A Droga da Saudade. A Droga da Nostalgia.
--- Chiara; Chiara! Você é mesmo uma Cineasta! E eu te amo! Você roteiriza tudo tão bem...
--- E aí, você ainda acha mesmo que não usou nenhuma droga?
--- Não usei não... (Risos) _Carol
--- Logo, você que me olha com olhos de um Dragão devorador e sedutor; você me despe e me deixa ao relento mesmo eu vestida com essa malha de lã colorida. E você; daqui uns dias ao passear por Copacabana e ouvir uma Bossa Nova se lembrará de como eu iria me sentir feliz ao seu lado sendo a sua única amiga-mulher?
--- Você disse tudo isso ao Caio?
--- Sussurrei enquanto ele pegava no sono.
--- Chiara, e o que mais você falou? Que idéia você plantou na mente do garoto?
--- Ah, pequenas observações, eu nem sei se são idéias.
--- O que você disse? Conte-me tudo! Que curiosidade horrível! Chiara, fala de uma vez por todas tudo o que você disse pro Cara...
--- Ah eu disse; ‘você pode imaginar a minha voz silenciando as baterias da sua mente. Eu, ao dizer que você ali sem camisa na praia, é tudo que eu sempre desejei. Ah, o Rio de Janeiro é que é apaixonante e não você, claro! E isso só pra irritar meu bobinho, porque quando estou afim de uma pessoa marco a presença com a minha alma. E se torna deplorável quem diz; eu te amo todos os dias. Porque, existem infinitos jeitos de se dizer eu te amo, quando se é criativa como eu sou! Ah, Caio você é sim meu Cineasta Maluco. Isso será uma droga em minha vida e um vício com qual eu aprenderei a conviver, pois, não sei se ainda encontrarei um Homem tão Homem que me faça sentir tão Mulher! (Irônica) Ai de mim quando sentir a falta de você no ápice do uso da Droga da Saudade. Pois, de todas essas drogas que usaremos ainda juntos, a pior é a da saudade. Ai de mim quando eu chegar ao ápice da droga da saudade. Pois, se com a droga do amor eu curo sua falta com chocolates e a da nostalgia com fotografias e mensagens, o que será de mim com a falta de você ao usar a Droga da Saudade? Não, não há nada que pare com meu vício, o vício de sentir saudade da sombra do teu desenho na minha sombra; do seu perfume em minha essência e dos ruídos do seu coração em minha calma... O que será de mim? Ai de mim que ainda seguirei com um sorriso no rosto, se acredito que ao deixar voar quem se ama ou mesmo uma promessa de amor? Os ventos um dia lhe trarão esse verdadeiro sentimento que nenhuma magia conseguiu esconder de toda a humanidade, esse sublime sentimento que muitos chamam e poucos acreditam ser o Amor’!
--- Poha! Que azarado, pobre coitado! O que é o subconsciente dele agora?
--- Ah, Carol, não me torra o saco! E mesmo que eu faça tantas preces assim para o enamorado errado? Talvez, hoje, apenas hoje a vida esteja me permitindo um ensaio. Gostou do meu roteiro encenado?
--- Caio deveria voltar a estudar Medicina, definitivamente. Um Cara que pode ser Médico não merece passar por você, amiga. E o que mais ele lhe disse? _Carol
--- “Chiara. Prometo que um dia quando eu e você formos Cineastas; faremos o nosso filme. O nosso maior sucesso de bilheteria, o nosso Sexo, Drogas e Rockn’Roll. Ai de mim, meu grande Amor, minha Linda. Nunca imaginei ouvir isso de uma Menina, de uma Mulher”...
--- Nossa! Quem vê uma cena dessas até imagina que você não prefere um Roqueiro.
--- Relaxe, isso é apenas um roteiro sobre a atmosfera que nos rodeia nas últimas horas. É apenas um roteiro encenado e divertido. Viu Carol, eu expliquei á ele o que é um roteiro dentro da situação que vivemos juntos. Ah, amiga e você deveria fazer uma leitura melhor sobre os roteiros que eu te mostro, como, por exemplo, esse que eu acabei de contar...
--- “Chiara, isso me pareceu tão real”. (Irônica)
--- Carol, como você adivinhou? Foi justamente isso que ele me disse; ”Chiara, isso me pareceu tão real”.
--- Não adivinhei nada. Odeio coisas óbvias. Mas, você é meu carma, então pode contar o resto da sua história...
--- Não se iluda só porque você está num festival de cinema. Foi o que ele me disse.
---Chiara, eu diria o mesmo. Flor, eu não vou te interromper mais, você pode contar tudo’...
--- Obrigada, Caroline Linder. Ah e ele me disse como um sedutor; ‘Você tem razão’. _ (Tímido)
--- Não fique tímido, sou uma excelente atriz, não sou? Você até me deu um Oscar ou se esqueceu? Mesmo, porque só não muda de idéias quem nunca as teve, não é mesmo? E hoje, eu vejo que existem sim grandes ensaios por esses corredores da vida que nos levam ao palco principal de nossa história. E cabe somente á nós mesmos, não decepcionar a platéia e sermos aplaudidos!
--- ‘Chiara, você é escritora, você é roteirista, você é criativa, você sabe lidar com a vida, com os sentimentos, você é afrodisíaca por natureza e você sabe que nenhum de nós morrerá se hoje nada acontecer. Amor, minha garota! Não me espere, por favor; mas, se um dia a gente se reencontrar é porque um grande filme nas telas do Cinema irá rodar’...
--- Vou guardar você aqui no meu coração. Num cantinho bem apertado, mas, o suficiente para que se um dia você voltar, pelo brilho verde dos teus olhos o meu peito volte a pulsar. Talvez, eu guarde você dentro da capa de um velho vinil dos Rolling Stones, pois, pelos próximos dias eu só quero de perto, ouvir o rocknroll tocar... E quem sabe, seu amor bem guardado estará? Ou será que correrá o risco de algum mofo lhe matar? Tempo, tempo tão velho, é tão amigo e sem respostas para me dar...
--- ‘Chiara! Vamos dar uma volta? Está chovendo; e eu quero passar todo o meu último dia aqui com você. Eu te amo’!
--- Vamos, meu Cineasta Maluco, vamos ver o nosso filme rodar, mesmo que ainda isso seja só para nos fazer voar. E despreocupe-se, vou te respeitar e vê-lo como um baú de piratas. Quem sabe pelo meio do caminho, você será encontrado sem ser outra vez enterrado...
--- ‘Amor, se um dia eu largar a Medicina para o Cinema estudar mais á sério; e seguir ao seu lado pelos sete mares; será que a sua família me aprovará’?
--- Penso que sim, acho que não, Caio...
--- ‘Como assim? Não me aprovarão’?
--- Sabe meu Cineasta Maluco, existem coisas que explicamos para os nossos Pais, outras coisas á Avós, há ainda certas coisas que comunicamos a nossa família e outras, eu digo as outras melhores coisas que só falamos baixinho no silêncio. Pois, são segredos que cabem apenas a Deus e á aqueles que conseguirem ouvir, entender... Sendo assim, não se preocupe com o que você for fazer. Porque a minha Mãe mesmo ausente na Europa, em certa ceia de Natal uma vez disse que eu, Chiara Garibaldi não seria feliz com um Engenheiro que fizesse para mim a maior ponte e colocasse o meu nome, não seria feliz com um Médico que se especializasse em cirurgias plásticas e fizesse de mim a cópia humana da boneca Barbie; nem por um Advogado ou Juiz ou Promotor que todos os dias de manhã no colorido do meu dia, colorisse-me com o tom fúnebre das Leis da Vida. Eu não seria feliz com um Empresário Milionário que me sustentasse na Europa em troca de uma vida pelas Ilhas do Mundo afora com várias secretárias gostosas; sim, a minha Mãe com toda sua ausência em minha vida ainda assim me viu enquanto Chiara Garibaldi. E ela disse para todos naquela Ceia de Natal, disse em tom alto de voz e seriamente: parem de perguntar onde está o namorado dela! Parem de manipular as vontades dela. Chiara Garibaldi será Cineasta, será Artista da própria vida, será o que poucos conseguem ser e ela se casará com alguém que a respeite e que ame a sua literatura, o seu cinema e a sua publicidade, pois, se assim não for, eu sei que a minha filha feliz não será e se dificuldades existirem, tenha dito aqui que nada é fácil nem mesmo com bilhões de dólares no mais suntuoso café de Paris. E eu vi borboletas voando naquela noite de Natal. O último Natal que vi a família reunida.
--- ‘Chiara, você me fez repensar profundamente sobre a minha coragem de viver, de ser eu mesmo e de acreditar naquilo que se sonha. Obrigado! Eu te amo! Obrigado’!
--- Não, meu Amor. Meu Cineasta Maluco apenas acredite em si mesmo, e não precisa me agradecer, pois, se um dia nosso destino se cruzar por aí não haverá símbolo nenhum em carteira de identidade que determinará a vontade dos outros sobre os nossos sonhos...
--- ‘Mas, se não cruzar Princesa, você pode ter certeza que quando menos você esperar, você encontrará o cara certo para seguir ao seu lado. Isso, mesmo que todas as suas amigas por algum motivo queiram o desaprovar, mesmo que você veja pudor surreal nos olhos de seus familiares, mesmo que seu sexo seja como um conto de fadas. E como você mesma já é capaz de sentir, o que lhe importará nesse momento será o rock que seu coração escutará e o ritmo com que ao travesseiro nos seus melhores sonhos a sua cabeça baterá! Se acalme, se não me reencontrar’...
--- Caio, eu não posso entender você, Caio..._ Chiara disse baixinho aos soluços...
Chiara não poderia ser tão forte assim, irônica, sarcástica, no peito um frisson, um frenesi, na pele uma ardência e um desejo. A fuga de seus medos dentro do rock mais punk, essa foi uma das escolhas. Mas, a despedida, á lagrima e a sensação que perdeu algo que lhe mimou por algumas horas, algo que lhe deu tesão e lhe causou arrepios á flor da pele; isso, ainda que ela gostasse tanto de um Rockstar, naquele momento isso lhe fez falta.
Frustração; não em tom de romance. Frustração em ausência de fusão de libidos expressivamente ativas. E o tempo, era o melhor antídoto para que esse mal-estar passasse...
Na parede uma sombra que desenhava sonhos, no vento a sorte que foi lançada lá na Cidade de Pedras. O começo de um roteiro sobre o filme: Sexo, Drogas e Rockn’Roll. Um filme de Chiara Garibaldi e Caio Heineker, com Direção do Senhor do Tempo, e num Inverno qualquer nos Cinemas.

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