Flicts! Não eram apenas as cores do livro encantado de Ziraldo! A lua aqui nos pensamentos das minhas amigas nunca foi flicts de verdade e nunca foi porque os meninos não deixaram...
E eu ainda debruço na janela do meu quarto e passo horas olhando a Lua no céu, numa noite tão estrelada, que aos meus olhos deveria ser muito bem colorida por mim, no entanto é apenas brilhante, brilhante lá na imensidão do universo...
Lembro-me de cada minutinho que eu passeava com minha cachorrinha por ruas estreitas e cheias de árvores, eu gostava de olhar para o Sol brilhando no final das tardes de outono e respirar fundo enquanto esperava um minuto na pracinha... E talvez, eu esteja esperando até agora, embora, eu tenha escrito alguma coisa no caule de uma árvore que não existe mais alguns anos atrás!
Mas, não me desespero por todas as lágrimas que eu chorei, afinal, eu não me afoguei. Descubro assim que por pouco foi tudo o que eu chorei! Fracassei, briguei com as minhas melhores amigas por um tempo, errei, no entanto, quando eu mais precisei,elas me ajudaram a sorrir e entender tudo o que estava por sentir...
Ah, e quantas vezes respondi cartas de desabafos? Eu sofria junto com todas as minhas amigas irmãs quando elas se apaixonavam por meninos safados. E eram tantas as histórias...
Certa vez, uma das minhas amigas do colegial, queria ser cineasta e quem diria hoje ela é bióloga, formada, feliz e nem se lembra mais all star furado daquele rockstar...
E foram tantas lágrimas perdidas pelo pátio da escola, sem saber que um simples babaloo mascado poderia tapar o buraco daquele sapato! E o engraçado é que hoje, ela nem se lembra da diferença entre guitarra e baixo...
Baixo, muito baixinho, quase sussurrado... Vou lhe contar o que aconteceu com outra amiga, essa era a mais maluca de todas nós, ela tinha um estilo meio woodstock anos 70’, coloria as madeixas de acordo com a variação do tempo e nunca me deixou desamparada um só momento.
Sempre saíamos após o simulado e íamos para o Shopping a pé, cantando, rindo até, parávamos numa lojinha que vendia a bebida da fadinha verde e bebíamos escondidas lá na pracinha, então, continuávamos cantando e dos meninos rindo é lógico, este era o nosso momento de vingança e descontração. E lá no Shopping, brincávamos na cama elástica, cantávamos na máquina de dançar e comprávamos muitos assessórios coloridos na lojinha estranha.
Na volta, matutávamos qual a desculpa boba que íamos dar em casa para encontrar um amigo que deveria ser flicts na pracinha, éramos cúmplices e sempre estávamos uma na casa da outra nesses momentos críticos de namorinho no portão. Ah, mas um dia foi Copa do Mundo, e a minha amiga do cabelo colorido se apaixonou por um narigudo de outra cidade, sim, ele estava fora do contexto rock’n roll social. Depois do jogo do Brasil contra não sei quem, fomos para o parque comemorar, era longe de casa, mas naquele tempo caminhar longas distâncias á pé com as amigas era muito mais divertido do que dar carona no conversível do padrasto da amiga da vizinha da minha inimiga. Simples eram as cores flicts que existiam em tudo que fazíamos e por mais burradas que cometíamos, ainda hoje tenho as melhores recordações de um tempo que não voltará mais, e que ensina a desapegar sempre daquelas pessoas que por você nada faz.
A minha amiga do cabelo de néon foi pra bem longe de mim, ela se casou, ainda não teve filhos, mas, é muito feliz assim. E felizes são os raros reencontros, que mostram como verdadeiras amizades nunca terão fim!E por falar em fim, chorar é algo que reside em cada menina, cada amiga, algo que faz cócegas em mim...
Um dia acordei tão feliz que até prometi que eu não choraria por nada, pois, tinha o mundo na ponta do meu nariz. Nesse mesmo dia, dei colo para uma amiga que soluçava ao contar tão estúpido foi seu ato de amar. Ela tinha se apaixonado por um alguém, que feriu seu peito com sabe lá quem, e ainda trouxe recordações na sombra de um doce neném. Senti-me tão incapaz de dizer que eu tinha motivos para sofrer, e então calei e escutei tudo o que minha amiga tinha para me esclarecer... E nesse dia eu aprendi que por mais doce que um Menino possa parecer, nunca se esqueça do que ele em sua ciência quer de verdade saber. Nesse dia, eu não fui dormir feliz...
Liguei o som num volume qualquer, troquei o cd sem olhar a qual, e abracei meu travesseiro como se aquele sono fosse o último bom sono antes de um fracasso total. Durante essa noite de sono, sonhei com a fórmula mágica do amor e aprendi que nós mesmas somos as responsáveis por todo o nosso mal...
Acordei numa manhã chuvosa, fria, cinza e sem cor...
Por pouco não tive coragem para levantar do meu leito natural, o aconchego do meu cobertor colorido e meu travesseiro de penas...
Ah, que pena! Sai correndo para a ducha muito quente, brinquei com o sapo da torneirinha do meu chuveiro e passei alguns minutos observando a água da chuva que escorria no vitrô do meu boxe. Não lavei meu cabelo como de costume, mas estava brilhante como todos os outros dias...
Passei um longo tempo desta manhã chuvosa em frente ao meu guarda-roupa pensando no que vestir, e na verdade eu queria uma resposta era para saber aonde ir...
Telefone tocou...
Isso, muito fácil! Aonde ir? Mais uma vez eu fugi das respostas que eu precisava viver, e fui almoçar com uma amiga no shopping e durante a tarde um filme escolher.
Cinema, roupas de frios e meu cachecol. Tudo era um pedaço do meu próprio caracol. Risos e choro, risadas em coro?
Talvez, uma tarde no cinema com uma amiga não fosse o suficiente para esquecer tudo que passou nos últimos anos... Não era o suficiente para eu entender como eu poderia teorizar tantas coisas sem praticar! Como eu conseguiria explicar a imperfeição masculina? Ou mesmo que não são ingênuos os sonhos de nós, Meninas? Assistimos ao filme Pode Crer!
Eu, que ainda nem saí do cinema, sinto os ruídos da guitarra a zombar na orquestra de meus ouvidos.