
Depois ter passado as férias no Hawaii, a lição mais importante que aprendeu foi beber todos os dias um copo de suco de abacaxi com hortelã! Acredite, isso não é nada afrodisíaco do tipo, aos quarenta e cinco você ainda terá um fôlego de vinte e um ou mesmo um corpo de dezoito. Ênfase ao fato de que o fôlego dos plenos vinte e um anos, ainda é apenas como um sopro que uma criança dá ao ganhar o cata-vento comprado no sinaleiro...
Acelere, o sinal abriu para você e se algo saiu do seu controle é um bom sinal de que em breve você volte a respirar, afinal de contas como é mesmo que tudo volta ao lugar? Dilúvios! Isso mesmo, não tinha mesmo como estar errada esta hipótese, calma porque logo você voltará a contar até três e soltar o ar ‘purificado’ pelos seus pulmões.
Oh não! Tempestade e esse trânsito parado...
Julie colocou um cd de blues e tentou relaxar, mas, a grande metrópole não a deixava esquecer como o amor pode um dia lhe surpreender...
E talvez tudo isso parecesse mais um pesadelo daqueles que você quer acordar o mais rápido possível porque além de tudo você ainda está muito atrasada para o trabalho, no entanto, eram apenas propagandas em muros um pouco manchados pelos últimos dois meses, e diziam que para um feliz dia dos namorados, você só precisava de um grande amor e porque não presentear?
Tédio! Julie debruçou a cabeça no volante por alguns segundos e quando o sinal abriu, ela acelerou e pegou um atalho para fugir daquele labirinto e como se não resolvesse muito, depois de uma hora e meia ela conseguiu chegar em casa...
E ao entrar no elevador, se lembrou que esqueceu sua agenda na produtora. Foi assim, que ela resolveu largar tudo de lado por uma noite, e abriu a porta da frente do seu modesto apartamento na Avenida Paulista, colocou um pouco de licor numa taça, falou oi para seu poodle de estimação, abriu a sacada para sentir o vento esvoaçar as cortinas da sala de estar feito rodas de saia do seu vestido de quinze anos...
Lá na cozinha, Julie recolheu as correspondências deixadas debaixo da porta, e ficou atônita! Julie abriu o congelador e seu sorvete de brigadeiro preferido tinha acabado, abriu a geladeira e seu chocolate branco com cookies estava em migalhas, então, abriu o pote de nutella que estava em cima do balcão e escorando-se na parede foi descendo até o chão, ela lambia os dedos sujos de chocolate derretido, e euforicamente abria a carta colorida.
Gritos foram ouvidos pelos quarteirões afora e pulos pelos vizinhos do andar debaixo. Nunca havia tido uma explosão “orgásmica” de alegria e risos e gargalhadas e foi uma coisa tão esquisita, uma felicidade reprimida que veio de dentro pra fora e de fora pra dentro, que mal sabia como era colorir um arco-íris preto e branco com lápis de cor naquele momento... Ela simplesmente correu ao telefone e ligou para suas amigas e animou todas as meninas para irem a um barzinho do momento que se chamava Frigideira’s Bar.
Depois de passar uma hora e meia no banho, na sua enorme banheira de hidromassagem, e soltando bolhas de sabão que saiam todas pelo vitrô do seu moderninho banheiro, Ju olhou para o espelho e o encarou muito bem, como se a partir daquele instante ela se deparasse com um enorme desafio.
Maquiagens foram abertas, pincéis pela pia espalhados, pós foram misturados, sombras eram lindas aquarelas na composição de Barbie na face da menina-mulher que começava a se desabrochar...
E assim abrir a porta do guarda-roupa, e passar alguns minutos tirando e colocando peças e no final vestir o velho e inseparável vestidinho preto estilo menininha, calçar o altíssimo sapatinho de boneca e se enfeitar em frente ao espelho que ia do chão ao teto, sem perder nenhum detalhezinho, e jogar brilhos levemente pelo visual, colocar o colar de coração mais mágico e sair exibindo a bolsa mais chique de todas, enquanto exalava o perfume mais doce com toque de vinho e rosas...
Julie se encontrou com Poly e Nina na porta do Frigideira’s Bar e elas entraram, pediram um drink a mando da casa, enquanto Ju contava tudo sobre a carta colorido e o misterioso menino do Hawaii...
Algumas horas se passaram e o menino supostamente muito atrasado, não chegava, e elas começaram a ficarem aflitas, e roeram unhas, olharam para a cara uma da outra, pediram uma música para banda que cantava as canções do Lobão e bocejaram de sono...
Julie com os olhinhos cheios de lágrimas, mas, sem chorar para não borrar a maquiagem, suspirou e exclamou que a alegria “orgásmica” tinha desaparecido como moeda que se cai na areia da praia...
Poly pediu a Julie a carta, que era toda colorida, muito alegre, toda escrita em inglês, com versos de poesia em francês e uma frase mal escrita em português, mas valeu a intenção do “eu te amo linda latinha”, a qual era pra ser latina. Tudo bem, lingüisticamente é perdoável o erro!
No final da leitura, ela não encontrou nada que dissesse que o encontro marcado não fosse no Frigideira’s Bar ás vinte e três horas, a não ser a data?
Eis que Nina exclamou com uma enorme risada, pois, era inevitável não rir e logo ela questionou Julie e Poly, sobre como se deve ler uma data em inglês!
Frígidas de verdade por um minuto! Atônitas por mais um segundo! Poly e Ju ficaram definitivamente sem reação nenhuma enquanto Nina terminava de gargalhar com a carta colorida abanando o calor que fazia...
Então, a charada terminava ali com três amigas brindando um pouco de tequila e rum, olhando uma para outra e tentando com todas as forças possíveis não acreditar que tudo era um engano, uma lastimada falta de atenção e que o fora nunca existiu...
Julie e Poly fixaram os olhos na data da carta e decifraram em voz alta; oito do doze e não doze do oito; eis o que podemos chamar de mau agouro do mês de agosto!
E o que fazer agora? Nada além do que rir, sorrir e se assustar?
Como se não bastasse o dia de filme de terror e melodrama a estilo Hollywood, o destino ainda lhe reservou um momento para comédia...
No minutinho em que despencou dos céus um pé d’água, que há tempos não se via na metrópole dos sonhos, e até pareceu que ia limpando o céu cinza e redesenhando os arranha-céus num colorido luminoso de estrelas brilhantes.
Corta!Volte para dentro do Frigideira’s Bar, lá, o Lobão começava a cantar uma canção meio que antiga e muito divertida; “ corações psicodélicos “, enquanto uma Suricati olhava desesperadamente para as meninas. Seria o novo momento “fire” da temporada do Bar e por isso ele tinha virado GLS? Ou seria um ataque dos nervos porque três amigas incomodam com alegria muita gente?
Ah! Como era divertido rir da cara dos outros! Não menos interessante do que o último episódio do Simpsons nos cinemas! Hilário! Assim, todos adjetivariam o momento “trash” naquela final de noite...
“Garçom, traz uma porção de batatinhas e três caipirinhas?”
O pedido de Nina veio a calhar na hora certa, pois, ali estavam ás três amigas rindo e se divertindo muito de ver a Suricati balbuciando, resmungando, coçando a cabeça e os pés, ( pés é sinal de perda de dinheiro e a cabeça se não é piolho, todo mundo sabe o que é, não?), enquanto o tal Chico não parava de olhar e olhar para as super amigas e com certeza, ele era o cara mais arrependido do planeta por ter trocado a Nina pela Suricati!
Depois desta canção o Lobão passou o palco para uma bandinha nova da MTv encerrar a noite no Bar, e como não era lá essas coisas, as meninas preferiram mudar de ambiente e foram para o cantos dos sofás assistir tevê, onde não tinha ninguém além delas, e já era tarde e não era final de semana e o Lobão já tinha dado o ar de sua graça e a banda intitulada “The Jorges”, era como o óleo que já fritou batatas a noite inteira...
Poly, com um pouco de dor de cabeça e cansada de tanto rir da Suricati, tirou da bolsa uma caixa de bis, e enquanto isso Julie procurava o controle remoto, o qual estava ao lado de Nina, e ela disse a amiga; “cate”. Foi ali naquele final de noite no Frigideira’s Bar que ás três amigas, á bis e com o controle catado, não conseguiram mudar de canal e resolveram irem para casa tomar uma boa ducha fria e deitar debaixo do edredom.
No outro dia, elas almoçaram num restaurante do Market Place e enquanto esperavam o pedido, elas começaram a folhear uma daquelas revistas para turistas e lá estava escrito: ”Frigideira’s Bar, o lugar ideal para Meninas e Mulheres freqüentarem a noite paulistana com tranqüilidade e bom humor. O lugar perfeito para Meninas frígidas, assim ditas, aquelas que não gostam de serem rodadas após a balada!”
O prato de massas chegou e elas brindaram com um vinho tinto italiano; às boas gargalhadas!