Tuesday, February 12, 2008

Sister Mundi


Cidade de Goyaz, algum Verão que já passou, na tempestade que o Rio Vermelho nunca inundou, entre muitos mascarados que o samba levou...
Depois da ponte de Cora avistei uma cruz, à minha esquerda o Teatro do seu Joaquim de portas fechadas para mim? Foi assim que segui reto até um pico alto da rua, me deparei de malas e cuias com o Coreto e a Praça, era a Praça do Coreto, e palhaços enfeitavam todo o ambiente, as copas das árvores e as grades da varanda, do lugar em que vendia Corneto, e embora tudo aquilo fosse muito bom, um calafrio percorria minhas ventas, tocava minha emoção, suspendia a minha mini-saia e tirava das mãos da criança o balão... E nada, absolutamente nada fazia parte da minha imaginação!
O balão passou cutucando com barbante a minha orelha esquerda, mas, não pude agarrá-lo e deixar cair no chão minhas malas e minha colorida corneta! Então, olhei a criancinha aos olhos, e de mel só tinham a cor, ela fez um bico e correndo saiu, abrindo um berreiro que ninguém além de mim jamais ouviu...
De repente, uma amiga me surpreende e diz que naquele Coreto vendia o picolé mais famoso do Estado, e vou devagar, mais devagar que um Mendigo coitado, carregando todas as minhas coisas, só para satisfazer minha curiosidade e comprar um “cajazinho” sem muito açúcar no palito e bem gelado, sólido e num copo de pinga mergulhado, o que fora pela tal amiga apelidado de “pingolé”... Aquilo desceu ardendo a minha garganta que de tanta sede pra ninguém nem canta, desfez um nó das cordas vocais e subiu a minha mente apostando comigo quem naquele carnaval sonhava mais!
Desci pelo Beco do Sertão, virei a direita e abri a segunda casa naquela escuridão, e a luz da sala estava queimada, a da cozinha era muito fraca e a do quarto estava acesa, afinal, as meninas já estavam por lá, mas ninguém deixou nem mesmo um café pronto sob a mesa...
Foi aquela farra quando eu cheguei, o som alto para comemorar minha presença, e todas as primas e amigas sem um pouco de paciência, com o vidrinho geladinho sob a colcha de girassol e o saquê que a Lara bebia devagar na caneca com desenho de um farol. Gritavam-me sem parar, me pediram para experimentar o Geladinho do Peter Pan, e assim a Sininho poderia nos encontrar, era o melhor refresco da vizinhança, era a receita que Cora Coralina escreveu para as amigas e nunca conseguiu decorar...
Sorrisos e risos sem compromissos se soltaram pelo ar, de risadas até dos papéis que lacravam as malas do último ônibus que eu tive que pegar. Sem lacres, e ainda com lenços e documentos, exploraram a minha última mala sem parar, palpitaram sobre as minhas roupas e meu cachecol colorido para o frio espantar, dele disseram que era uma arma poderosa para picadas de abelhas esconder no pescoço de fantasma que uma das primas deixava aparecer... E eu disse, o cachecol é nosso, usem quem quiser, a mim apenas o frio é elementar para colocá-lo, no entanto não há censuras em seus fios...
As Meninas perguntaram pela Belle, e eu respondi que a “Sister Mundi” estava no Mercadinho fazendo comprar para o jantar, elas perguntaram se ela nos daria atenção, muita, ou se estaria ali cozinhando para namorar? Certeza eu não tinha, mas respondi que era cada coisa em seu lugar e que ela, certamente, não ia nos deixar sem sua presença o carnaval inteiro a devagar no tempo.
Quando Belle voltou, todas as meninas sua paciência perturbou, algumas garrafas refrescantes conosco ela saboreou e seu namorado até divertido no fogão se ausentou, dizendo alguma palavra vaga pelo discurso, e fritando batatinhas sem a demência de um velho caduco.
Sem fome, sem querer lavar a louça, sem vontade de sujar as mãos na batalha contra tudo que engordurava pratos, garfos, facas, copos, e vasilhas e panelas e qualquer outra coisa que estivesse volúvel naquela cozinha, eu, me ausentei na minha condição de estar fazendo dieta e nem macarronada com azeitonas, e nem batatas de gorduras secas, eu saboreei, foi assim, que nenhuma vasilha eu não lavei. Mas, não demorou, para uma voz em alto e bom tom em “espírito de porco”, pudesse exclamar: “aqui é coletividade, todo mundo ajuda”. Eu fiquei ao relento no quintal cabisbaixa, e encostei a portinha da cozinha, olhei para o banheiro cheirando fezes masculinas (eu precisava culpar alguém e como todo bom ser humano para sair dessa situação emergencial de uma coletividade anormal), e disse: “olha só galera, eu estou de dieta, e eu não quero comer macarrão, nem fritas, nem nenhum copo sujo desses por aí lavar, e sobre á coletividade eu posso até com o banheiro, amanhã de manhã, ajudar... Porque da cozinha, tudo que eu sujei eu já lavei, e não me venha com esse papo de coletividade geral em tudo que se faça aqui nesta casa, pois, se assim for, amanhã vou tomar vários purgantes e não me responsabilizarei pelos rolos de papel higiênico que eu gastar...”
Sai sem resmungar, e nada adiantou, começaram a zoar e minha paciência acabou. Fui para rua dar umas voltas, parei em frente à ponte de Coralina a questionar, como era ruim quando as pessoas se apaixonavam e para cozinha iam brincar? Pior ainda, quando era a sua prima que sempre esteve com você, e de um minuto para outro com louças sujas quis lhe presentear? Insano! Mentalmente me perturbava aos poucos, como um exercício em ordem decrescente que esmagava a minha razão e me faltava o ar, sempre que encontrava a tal insanidade, respostas como a palavra “altar”?
Não! Eu não fui a última feminista maluca do universo e me reencarnei no meu corpo, hoje, eu apenas sou uma menina questionadora sobre as dores do amor! Na verdade, eu aprendi mesmo com a Belle uma vez que eu ainda mais nova eu era e sempre a copiava, e numa longa conversa num dia de semana a tarde no telefone, ela gritou comigo brava e me gelou durante vários dias como um castigo que me deixasse pensando, ela berrou: “ seja você mesma e pára de me copiar, pentelha!” E desse dia em diante, a cada vez que eu olhava em qualquer espelhinho, eu passava horas viajando na minha imaginação tentando descobrir quem eu era, já que a Sister mais velha, era apenas minha prima que se distanciava, e era assim que tudo feliz, tinha que ser...
Na escola, eu morria de ciúmes dela com algumas amigas “chatas de galocha” que ela tinha, e ás vezes, esse sentimento passava de repente quando essas pessoas sorriam pra mim, seguravam na minha mão e diziam; “não, chora não...” Até que um dia, numa briga dessas bobas qualquer, em um lugar qualquer, uma dessas amigas que no fundo era até legais, mas, admitir isso seria um pouco demais, falou em tom sério que despertou um turbilhão imaginário a condenando em minha mente, ela disse: “ sabe de uma coisa? Quando ela mais precisar, é você que junto vai estar, vocês tem o mesmo sangue, são tão próximas não? E eu nem por perto vou ficar...” Foi uma frase com duplo sentido, e a minha vontade de proteger a pessoa que mais me ensinou sobre eu mesma nessa vida toda, simplesmente olhou o lado ruim das coisas, e por muitas vezes meu olhar de reparação nunca deixou de ser o mesmo olhar de uma águia enfurecida por não entender como poderiam ser tão grudadas e na hora que precisasse, ela estaria apenas longe dela? E tudo não passava de uma questão de coincidências, em vez de uma grande sincera falsidade! Então, me rendi a sinceras desculpas em pensamentos, fiz voar pelo ar uma consciência com pé atrás de quem confiava e desconfiava dessa criatura em seu mais sincero sentimento! E assim o tempo foi passando, até pessoas reafirmarem tudo para mim, de como o céu era azul, porque nem todas as noites eram estreladas, ou porque os cachorros latiam e não miavam?
Caminhei até a Bodega Fantástica, passei por um enorme corredor cheio de espelhos, e eu já não me perguntava quem eu era. Naquele minuto, eu me encarava e disputava comigo mesma uma enorme Guerra, onde o Woodsctock tinha voz, onde a minha garganta rouca se desprendia de vários nós, onde tudo que eu tive na vida foi um exemplo lindo de amor e amizade, sem querer ser puxa-saco, mas a Belle foi pra mim uma das minhas mais puras verdades! Sempre amei todas as pessoas queridas ao meu redor, fui redentora de todo sentimento sem dó, falei verdades e mentiras sinceras para calar um choro, chorei junto e dei meu colo sempre que precisasse de consolo, á sisters, ás primas, que eu sempre vou ter, ás amigas que sempre vão existir, a Mila que de casa ensinei sem querer a fugir, e a minha família que mesmo me espionando vinte e quatro horas, há tempos se afasta de mim... E quando eu falo de Guerra, eu olho na pupila dos olhos de meus avós, meus tios mais bravos e carrancudos e lá no fundo eu vejo o medo que eles tem que nós jovens copiemos em erros, apenas tudo... No entanto, isso nunca me intimidará, por mais calada que eu possa sempre estar... E na alma brilhante de cada um de nós, somos apenas aprendizes de como, na vida seguir desfazendo da garganta todos os nós... E quando eu repito meu discurso sobre Guerra dentro de mim, minto de forma honesta e sincera sobre um casamento sem fim, falo sobre um altar que nunca vou subir e me escondo na idade de trinta anos que ainda não vivi, para acalmar toda a repressão que uma família e seus conceitos moralistas como qualquer outra família de qualquer outro amigo meu, tenha dito e redito num diálogo bravo sem fim... Por isso, os dias passam e me perco, numa bola de neve gigante quando desço a colina gelada rolando penhasco abaixo e pelas “cirolas arrotas” fico presa num galho, esperando toda a tempestade de gelo que cai devagar passar e uma mão de um amigo dali me retirar... E como eu posso olhar sem ter as bochechas rosadas pelo frio, sabendo que alguma Tia em sua consciência reside com a verdade que habita em mim? E pelo simples fato de abrir um livro e estudar muito, e se relacionar com pessoas em um circulo infinito que eu chamaria de Ciranda da Vida, quando sempre que me perco, na música que as pessoas que a dançam também cantam, eu me encontro, e com perguntinhas subliminares eu mesma me respondo? Engraçado! Divertido! Amigo! Escondido! Suspiro! Surpresa! Ufa! Nunca imaginei como seria bom, vencer essa Guerra em mim, e sair correndo pelos jardins sem saber quantos coloridos as flores tinham ali? Sendo assim, não mais do que assim, segui adiante naquele corredor cheio de espelhos e eu repleta de respostas sobre quem eu sou, como eu estou, o que a Menina que existe em mim sempre sonhou, porque meu coração há tempos balbuciou ou o quê nesse momento parado na ampulheta do tempo, a vida apenas me mostrou...
Minha mini-saia xadrez balonê e meus bons amigos brindaram comigo o gosto daquela Fantástica Bodega, e a chuva que caía, fazia ondas para o barquinho de papel que navegava pelo chafariz da parte externa daquele recinto... Hoje, apenas sei de tudo que eu sinto! Há tempos não reluto com os sentimentos, e a Guerra cessou em meu coração, hoje, agradeço ao Mundo por experimentar com boas companhias amigas um turbilhão de emoção. Hoje, não mais do que hoje, o mundo roda sem as pessoas se darem as mãos e a esse fenômeno só existe uma simples explicação... Hoje, as pessoas cresceram e mais uma vez são donas da sua razão, são gratas aos mais velhos que pouparam muitos desafios esquisitos, mas, seguem à sua maneira por diferentes caminhos conhecendo sempre novos amigos, e aos antigos, há sempre uma representação de carinho e amor, nem que seja por um simples cartão! E a Menina que seria a última feminista dos tempos do Rum na Coca-Cola, hoje brinda com alegria um novo conceito de ciência, no minuto que se desprende dos medos e segue como a aprendiz de uma irmã mais velha, para sem imitar, viver as suas próprias experiências...
O Mapa Mundi! Exclamo em sintonia na orquestra da alegria, por onde a Sister passar, e todas as pessoas que a amam lhe desejam que seja brilhante onde precisar estar... No Coração, ficaram as lembranças das brincadeiras de Barbie que a psicologia inversa explicaria toda a adolescência desmedida cheia de shows, festas, viagens e memórias divertidas, estas, para sempre colecionadas pelas melhores amigas! E ainda relembro o melhor ensinamento, a Sister me ensinou, aliás, á todas as Meninas que lhe rodeavam e tinham espaço naquele coração; com ela aprendemos como é bom se amar, antes de lançar os desejos ao vento e sem destino navegar... Amor próprio, orgulho de si mesma e determinação, não são apenas três adjetivos que podem ser levados por um simples furacão!
“Just a little bit harder...”_ Já cantarolava a Janis Joplin numa radiola no ar da Bodega Fantástica, e por mais, sozinha que eu estivesse, em pensamentos agradecia a Belle e as outras amigas que eram simplesmente Sisters, por eu estar sentindo-me tão bem naquele momento... No minuto que eu lembrei; que é feliz quem tem amigos, no minuto que eu conheci os melhores sonhos que eu mesma guardei para mim, no dia que eu senti como era maravilhosa a Menina que em minha face sempre tentou sorrir. No dia que eu me descobri!
Segredos, frascos de perfumes e selos de correios, que virão de todos os lugares do Mundo por onde qualquer uma de nós puder viajar... E no coração ficará pra sempre uma mensagem singular de amor próprio e determinação, ensinada pela Sister Mundi, para que pelo Mapa Mundi, ninguém nunca tenha medo de caminhar... Aloha!