Wednesday, September 12, 2007

O mistério da Cabaninha ...



Primavera na Ilha do Vento, ali perto de algum lugar, talvez uns trinta minutos ao barco à vela, pudesse chegar à cidadezinha mística no meio das Montanhas e vales encantados, muito perto da sua imaginação, ali no Hemisfério Sul, próximo a Patagônia e longe de qualquer crise de insônia.
O vento se insinuava pelas flores do mais secreto jardim, os pássaros cantavam uma canção que adormecia a Menina nos braços do Menino que nunca lhe fora ruim, as borboletas se debatiam no pote e ao cair ao chão, fugiam pra longe dali, enquanto, as nuvens desenhavam o céu ao redor do arco-íris que escondia o melhor pote de mel...
Ali, longe de qualquer lugar, não tinha mais ninguém, era um lugar mágico perdido no mapa e sem flashes daqueles que apenas querem ganhar os seus ‘vinténs’. E é por isso, que podia ligar o som á bateria no volume mais alto, colocar no toca discos o melhor vinil da Janis Joplin, e esperar a chaleira esquentar, e depois jogar essências de morango pelos cantos, acender um incenso pra agradecer aos Santos, brindar xícaras de chá de hortelã com folhas de laranjeira, e pra quem pensar que tudo isso é uma grande bobeira, saiba, que o ventinho frio que entrou pela janela, acordou calafrios das pontas dos dedos dos pés, arrepiou a nuca da Menina-Mulher e sussurrou o melhor segredo pro Menino que nunca fora Ruim, então, fez chover no céu ensolarado de arco-íris, pingos de amor que simbolizaram todo o desejo que naqueles corações despertou...
O relógio de parede não tinha pilhas, o vinil tocava músicas antigas que desenhavam os melhores momentos que já passaram juntos em suas imaginações, foi quanto eles sentaram na beira do mar, e ficaram debaixo daquela chuvinha rala, abraçados a observar toda aquela imensidão azul que lhes permitiam juntos sonhar ou por que não pra sempre navegar?
E deitaram na areia pra ver o Sol se pôr, fizeram castelo de areia e brincaram de desenhar ali todo o seu amor, mesmo que as marcas as ondas fossem levar, ali, sempre ficariam enterrados os medos que os fizeram blefar!
No minuto que o céu se encobria de estrelas aos poucos e como bobas crianças brincavam de guerra d’água naquele aquário a beira-mar e depois subiram ali no mais alto coral, abriram os braços aos céus e fizeram promessas infinitas de amor pra serem lembradas na varanda de uma linda casa cor-de-rosa em qualquer lugar do Planeta onde pudessem ser chamados de Vovó e Vovô!
Depois, quando o frio veio incomodar e a areia o corpo inteiro arranhar, tomaram uma ducha na Cabaninha mágica naquela Ilha escondida no duvidoso mar.
Lá, não muito diferente do que você queira imaginar, tinha papéis de parede decorados com estilo medieval no fundo da sala de estar, e tapetes fofos pra pisar, deitar e rolar, mas, o que mais chamou atenção da Menina-Mulher foi à toalha cor-de-rosa escrito seu nome nas laterais e um cartão com uma rosa no bolso do roupão, pedindo pra ela esperar o sininho tocar e então, seria a hora certa pra sair do quarto e abrir os olhos...
Surpresa! Foi tudo que ela poderia imaginar, sentir e sonhar, era como se na sala tivessem duas taças de vinho pra brindar, chocolates com morangos e uma deliciosa pasta ao molho branco com uma salada tropical pra um romântico jantar, os dois amantes mais perfeitos das histórias nunca contadas nos contos de fadas, deliciar sem parar...
Pow! A Menina que ainda era apenas a mesma doce menina, jogou o despertador na parede, e ainda que não quebrasse, parou de tocar...
Infeliz, com uma forte dor de cabeça, abriu um olho só, fechou, fez força pra sair do pesadelo e de repente acordou, ficou estática deitada em sua cama, e nem entrava um ventinho frio pela janela, o teto? Apenas rodava sem parar e lá fora fazia tanto calor que ela tinha até medo de abrir a janela e sentir derreter todo aquele sonho feito de amor...
A Menina contou até treze, se levantou e lavou o rosto com água fria, olhou para o espelho e percebeu que tudo era um sonho bom que a ressaca em sua forma de evaporar lhe permitia ter enquanto o corpo repousava no mesmo leito de sempre, sozinho, no edredom, com o urso de pelúcia e ninguém mais, nem mesmo tinha um vinil antigo pra tocar as canções que o sonho bom lhe fazia sentir imensa paz...
Ali, longe de qualquer lugar, a ressaca partia levando o mistério da cabaninha, ali, no banheiro colorido da Menina que debaixo do chuveiro frio acabara de sentar...

Sunday, September 2, 2007

Janela d'alma

Tempestade, eis a sintonia mais subversiva dos últimos anos em minha vida, então porque não ousar dizer que hoje, estou preparada para abrir a janela d’alma e dividir com o mundo o meu segredo mais surreal?
Surrealismo o meu enquanto insistir em ter um coração que pulsa sem ritmo em uma canção que não é minha, num caminho que não é meu, nos últimos anos que demoraram pra passar e que me fantasiaram com glamour, sendo os mais belos personagens das mais inusitadas comédias românticas?
Cansei de ser a rainha do baile e a impiedosa Colombina que se culpa pelas lágrimas do mais nobre Pierrot ... Hoje, apenas coloquei a deriva o segredo mais profundo do meu peito e nesta cisão que mais parece o meu juízo final, comecei a experimentar delícias que só o vento e o mar puderam me trazer... Neste exato momento, minhas utopias são apenas verdades do espelho da vida que reflete tudo o que acontece a minha volta, o que eu sinto, o que eu vejo e os meus melhores desejos, eis o meu segredo real que não espera o tempo passar debruçado na janela d’alma, mas, desce ladeira abaixo sem buscar nada, apenas pela livre sensação de ser feliz...
Ali, longe de qualquer outro lugar que me inspire medo, posso fazer um pedido aos céus, agradecer pela vida e sentir a imensa alegria de viver o que o homem nunca pensou em ser inusitado, ao menos que misturasse pimenta com guaraná e ainda assim talvez, algum louco lhe dissesse que o fogo que se esparrama pela pele tinha um sabor adocicado por toda aquela maldade que se chamava tentação...
Tentação de tentar compreender o que apenas os ruídos da respiração podem traduzir durante o seu sono mais profundo, nos braços de um urso de pelúcia que sempre será quem mais lhe confortará, mesmo que você tenha um namorado pra chamar de seu!
E se você quiser discutir comigo, saiba que a psicologia infantil explica a subversiva tortura em que me encontro, ao me deparar com o meu lado infantil e o meu lado mulher...
Natural, tudo seria se o nada não se resumisse no aspecto de transições epistemológicas do meu ser com o meu viver, e hoje tudo seria tão simples se eu não tivesse a ousadia de tentar tudo entender; eis a minha dramática conspiração com o mundo a minha volta!
E se eu pudesse tudo comparar as ondas do mar que vêem e voltam á todo momento, eu seria muito grata ao mar pela certeza de que eu poderia sempre passear de barco á vela, sentir enjôos e nunca estar frígida, ou quem sabe se fosse apenas como comer chocolate com coca-cola e brincar com os amigos da faculdade soltando arrotos, então, seria apenas um motivo para abraçar o meu travesseiro e chorar muito, porque, assim eu descobriria tão grande é a individualidade e a frieza quando o assunto é sexo oposto, e por último se eu pudesse comparar a simples cena Shakespeariana de Romeu e Julieta na sacada, talvez, eu adormeceria para sempre, pois, isto seria apenas um sonho bom...
Foi assim que ao longo dos anos, muitas meninas deixaram cair no cantinho da escada suas bonecas de porcelana...
Algumas Meninas não souberam deixar cair ás bonecas, apenas as jogaram, assim esfacelando aos poucos a face boneca-menina, ali no canto da escada, outra, deixaram cair confortavelmente com o vento que entrava pela janela e hoje, descem ladeira sem nada buscar, sem nada saber, correm ladeira abaixo apenas pelo prazer de sentir o vento sussurrando alegria, sem medo de tropeços, sem medo...
As Meninas Felizes se dividem com a velha infância e o lado mais doce de ser uma mulher, nos dias de sol, nos dias de chuva, nos dias que não param de ser a paisagem da janela d’alma!